Manhã de uma terça-feira. Três
horas de espera na fila do banco e as reclamações começam.
- Estou aqui desde dez horas,
isso é um absurdo! - protesta um.
- É assim que vocês tratam os
correntistas de vocês?! – questiona indignado um homem alto.
- Senhor, falta muito para minha
senha? Estou passando mal de fome. Cheguei muito cedo e nada de eu ser chamada!
- desabafa uma senhora junto ao gerente.
- Que prioridade é essa que a
gente fica esperando sem fim?! – reivindica uma idosa.
E o coro vai aumentando, até que
um senhor levanta e brada a plenos pulmões:
- Isso é um desrespeito!! Vocês
saem para comer, mas a gente fica aqui feito besta! Duvido que o senhor gerente
fique sem almoçar! Mas a gente não vale nada!
Os demais, que também esperam,
aplaudem, balbuciam as próprias queixas e, após segundos, vão se calando. O
gerente responde:
- Senhor, somos só nós três
atendendo. Não tem mais funcionários e dez mil se aposentaram. É o jeito
esperar a sua vez.
Minutos depois, o gerente sussurra
para uma funcionária:
- Viu aquele senhor gritando?
Como sempre, é um devedor. Depois pede ao fulano para olhar o caso dele.
Ao meu lado, uma mulher cisma com
um suposto casal enquanto o homem, que carrega uma criança no colo, vai pedir
informação ao funcionário:
– Olha! Ele traz a criança para
ter prioridade na fila. Aquela ali deve ser a mulher dele!
Uma desconhecida participa da
conversa no ar:
- Tenho certeza que ela podia ter
ficado em casa! Pra que saíram os dois sem necessidade?! São muito é sabido.
Uma manhã e tarde olhando para
senhas piscando no visor e a sensação de total impotência e desperdício de
tempo. Assim foi minha última ida ao banco.
Desde pequena, não sou afeita nem
a instituições bancárias tampouco a dirigir no centro da cidade. Quando tenho
um compromisso assim, sinto que aquele será um dia difícil de atravessar. Meu
pai, tempos atrás, confessou ter o mesmo sintoma. Sendo genética ou não, o fato
é que sempre tive pesadelos nas idas ao banco.
Primeiro fico em constante alerta
por medo de assalto. Olho o movimento dos guardas, a porta giratória barrando
alguém. Imagine, ser refém naquela manhã chuvosa, quando você ainda tem muito o
que fazer?! Se der azar e os clientes tiverem que tirar a roupa?! Meu Deus,
passar a temível vergonha das peças íntimas descombinadas. Terror para um
imaginário fértil.
Depois, tenho a impressão de que
as idas ao banco são pura perda de tempo, quando não se consegue resolver as
pendências pela internet, telefone ou caixas automáticos. No meu caso, o cadastro
voltou aos dados antigos, por inexplicável vontade do sistema, emperrando operações
futuras. O gerente, não resolvendo o problema, pede que eu ligue para o
autoatendimento. Então, por que me mandaram à agência?! “É o sistema, não posso
fazer nada.”, explica o gerente.
Além disso, não raro, as
informações entre agências do mesmo banco também diferem e você se pergunta
onde está o treinamento? Mas isso é bobagem, seu tempo é barato e a gasolina
também. Numa hipótese mais animadora, você ainda ganha o direito a contracenar
no espetáculo de teatro amador, desses de uma terça-feira comum.
Pause. Você se imagina
protagonista da cena, batendo o telefone do gerente com toda a força, joga uma
pilha de papéis no chão, sobe na cadeira e convoca os demais para um motim. Quadro
típico de “Um Dia de Fúria”.
Play! Você se dá conta do quanto deve
ser estressante trabalhar em banco e ter que ouvir todo dia aquela ladainha de
clientes reclamando de filas com mais de três horas, e ainda ter o atendimento sempre
interrompido. "Pode me dar só uma informação, por favor?!"
Pause. Você olha ao redor e nada naquele
ambiente parece estar feliz, nem clientes, nem funcionários, nem o guarda, nem
a moça que presta informação na entrada do banco e conversa tranquilamente com
uma segunda funcionária, sem se importar com as pessoas na filando esperando a
triagem inicial das senhas.
Play. Você sai do banco sem
resolver sua questão e pensa em como o dia foi arrastado. Torce para que amanhã
não tenha que voltar à agência e reviver as cenas de uma novela que não vale a
pena ver de novo.
Talvez o rapaz que vende milho
cozido na saída do banco tenha tido mais sorte e fature algum com a espera
alheia, ou o flanelinha receba uns trocados, se tiver paciência em aguardar sua
volta após um expediente de cinco horas. Difícil deve ser para a loja de flores
ao lado, vender bombons, pétalas e romantismo para os que saem destemperados
das filas de banco.
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