quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Ser Feminino


O discurso de Madonna, durante a premiação na qual foi eleita pela Billboard como “Mulher do Ano na Música em 2016”, trouxe confissões e empoderamento. A cantora abordou situações íntimas e os desafios da carreira como pop star e mulher. Enquanto respirava profundamente em algumas memórias, seu olhar parecia revisitar o passado. Imagino que passou um filme em sua cabeça naqueles dez minutos de discurso. Entre as mensagens pungentes, declarou: “Na vida, não há segurança de verdade, exceto crer em si mesmo”.

Além das palavras precisas, me chamaram atenção as pausas de Madonna. Aqueles breves segundos em que ela respira, sente, olha cortando o ar, e retoma a fala. Vejo a plateia prender o fôlego. Um silêncio palpável, emocionado, constrangedor.

Quando se referiu aos apelidos que recebeu - “vadia”, “bruxa”, “pactuante com o Diabo” - confessou ter ficado paralisada. “Levou um tempo para que eu me recompusesse e continuasse com minha vida criativa; para que eu continuasse com minha vida”. Com a voz embargada, explicou ter encontrado conforto na poesia e na música.

Mais uma pausa. Madonna respira, olha para baixo e desabafa: “Eu me lembro de desejar ter um modelo feminino a quem eu pudesse procurar por apoio”. Outra grande pausa, agora maior, seguida de uma respiração curta e forte.

Naquele instante pensei sobre os modelos femininos que recebemos ao longo da vida – mães, professoras, tias, artistas como a própria Madonna, amigas, vizinhas, e até desconhecidas. Pensei nas ausências. Recordei o quanto desesperadamente nós mulheres, em fases distintas, precisamos de um apoio, de uma palavra amiga, de uma referência, seja de sucesso, de confiança, projetando o feminino de fora para dentro, para que possamos acessar nosso próprio potencial, sem culpa.

Naquela pausa senti a solidão de Madonna, e de tantas outras mulheres que buscam uma direção fora para ter força e coragem de se ver por dentro. O quanto ainda meninas queremos o olhar gentil nos apontando o caminho, nos dizendo que tudo bem em sermos nós mesmas, que há beleza e perfeição em nós. Que ter intuição não é fraqueza e se emocionar é sinal de que estamos vivas, e principalmente, que não precisamos embrutecer para ocupar nosso lugar no mundo, apesar dos infindáveis desafios que virão. Apenas um sopro de gentileza sobre nossa face pueril.

Sem ter a dimensão exata (acho que nunca se terá) do papel que nós mulheres desempenhamos umas para as outras, perdemos oportunidades de fortalecer o feminino. O ser mulher que há em nós nem sempre saúda o feminino que há no outro. Nossas pequenas brigas e competições enfraquecem nosso caminho, quando poderíamos nos olhar com mais compaixão e delicadeza. E haverá ainda tantas portas a atravessar.

“O que eu posso dizer sobre ser mulher?”, questionou Madonna na cerimônia. “Não há regras, se você é um homem. Se você é uma mulher, você precisa jogar o jogo”. Uma realidade do mundo pós-moderno, com ou sem estrelas. E Madonna complementou: “Envelhecer é um pecado. Você será criticada, você será a vilã”.

De Madonna às mulheres de todos os dias, me pergunto se não precisamos de mais referências femininas, neste mundo de avanço masculino. Lembro um comentário outro dia, em um desses vídeos que passam pelas redes sociais. Se você não vê uma mulher em posições de destaque, de sucesso, à frente de algo importante, é como se confirmasse internamente a crença de que ela não é capaz.

Como inspiração para 2017, deixo aqui a mensagem final de Madonna, eleita a “Mulher do Ano da Música em 2016”: “Enquanto mulheres, devemos começar a apreciar nosso próprio valor e o valor de cada uma. Busquem uma mulher forte para ser sua amiga, para se alinhar com ela, aprender com ela, para ser inspirada, para colaborar, para apoiar, para ser iluminada.”


Texto originalmente publicado na minha coluna quinzenal no Blog Repórter Entre Linhas

sábado, 17 de dezembro de 2016

Amor de Neta


Hoje faz dez anos que minha Vó materna se foi. Dona Altina. Confesso que a saudade não diminuiu com o tempo, que sempre me mostra a força desta mulher para além da vida. Tenho experimentado bonanças pela generosidade da minha amada vozinha, quando as pessoas relatam que fazem algo por mim como uma forma de agradecer o que tempos atrás minha Vó fez por elas. É mais uma prova de que Dona Altina continua a me abençoar.

De todas as coisas de quem se vai, entre as que ficam, costumo dizer que o cheiro é uma das mais marcantes. Em diversas ocasiões, sinto seu perfume vindo como uma leve brisa me arejando. Floratta, uma fragrância com a qual se banhava e que hoje personifica sua presença ao meu lado dizendo “Tenha calma minha filha, eu estou aqui.”. Nessas horas, respiro profundo, fecho os olhos e agradeço o sinal, porque sei que ela está a me proteger e guiar.

Dona Altina era minha base de vida. Foi pai, mãe, avó, babá, médica, professora e, nos seus anos finais, minha filha. Período que a vida me desafiou e me convocou a ser forte, a amadurecer. Tirei pontos, apliquei injeção, regulei oxigênio, fiz comida enteral, cuidei de escaras e mais um monte de testes que quem passou por este caminho conhece bem.

Meu coração muitas vezes queria trocar de lugar com minha Vó, para que o sofrimento dela cessasse. Mas eu não tinha esse poder. Foi penoso e mortificante acompanhá-la em cirurgias, recuperação, quedas, transfusões, balão de oxigênio, sonda para se alimentar e finalmente o Alzheimer. Nome estranho que eu, aos vinte e poucos anos de idade, mal compreendia.

Eu não sabia o que sei hoje, não entendia que a tal doença tem fases, que o corpo vai parando, que o olhar vai ficando opaco e a memória dorme presa na infância. Me lembro de episódios (já eram sinais) que nos faziam rir, mas já era doloroso para ela perder a rédea dos dias. Passava horas tentando lembrar o nome de alguma celebridade, não sabia o que tinha comido mais cedo, perdia a chave do guarda-roupa de forma cotidiana e dizia que tinham roubado seu dinheiro, quando ela mesma havia escondido tão bem, só não lembrava onde. “Achei, minha filha, mas olha!”.

Um dia, quando ela ainda falava de forma mais clara, me perguntou como seria morrer, porque tinha medo durante as agonias matinais. Eu engoli seco e tentei passar uma tranquilidade, mesmo que por dentro doesse. Expliquei que seria uma transição e que sua mãe, filho e irmãos já falecidos estariam ali, apoiando sua travessia. Falei que ela veria luz e não teria medo. Sinto que acreditava.

Lembro dos grandes aprendizados que tivemos juntas, como abraçar e dizer um simples eu te amo. Uma novidade para nós duas, que não recebemos tais ensinamentos de nossas mães. A vida nos confrontava com uma oportunidade – expressar o amor. Afinal, só tínhamos uma à outra, na rotina de colégio, casa, hospital, casa, colégio.

Hoje eu escrevo esse texto Vó como mais uma forma de expressar esse amor e te agradecer por tudo, mesmo as horas de silêncio e aquele olhar sério de quem não aprovava minha rebeldia adolescente. Eu brincava para te dar mais alegria, colocava música para animar o ambiente e celebrava com um almoço em família seu aniversário, para te dizer que a vida deve ser comemorada como uma vitória. Sempre que atravessamos o dia, mais um ano, nós vencemos.

Agora vejo seu santinho, que guardo no Evangelho, indicando 17.12.2006, ilustrado com a foto 3x4 que tiramos juntas. Lembra aquela tarde, quando vestiu sua roupa favorita e fomos a Abafilm? Nunca pensei que seria sua imagem de santinho e que o traje iria com a senhora na estrutura de madeira.

Recordo sempre do nosso último momento, no hospital, quando partiu na hora do Angelus. Enquanto minha amiga lia o Evangelho, a senhora deu os três suspiros da velha música, e eu parecia vê-la sendo recebida por pessoas queridas, sendo amparada após sua longa jornada de dedicação aos outros aqui na terra.

Recordo mais: suas expressões típicas - “cara lisa”, “ispicial”, “qualistria”; sua marca registrada - o doce de mamão, o bolo Luís Felipe favorito, o sorvete preferido sabor napolitano e a banana assada com canela, que tanto adorava. Ah Vó, “Escolinha do Professor Raimundo” está sendo reprisada, aliás, está com novos atores. Quem sabe a senhora encontra o Chico Anysio por aí, que tanto a alegrava por aqui! Ele também já se foi. De repente, batem um papo camarada e a senhora solta a frase que tanto gosto - “Ow beleza!”.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Outras vestes


“Você sempre faz o que é esperado de você?” Ouvi esse questionamento em um sábado à tarde, no curso de mídias sociais. Fiquei um tempo a refletir, mas minha resposta veio rápida. – “Sim!” – conversei mentalmente. “Que pena!”. Foi o comentário do instrutor. “Onde está o elemento surpresa na sua vida?”. Era depois do almoço e eu levaria dali bem mais do que aulas sobre facebook e instagram.

E seu eu pudesse ser outra dentro de mim? Há espaço para mais? Fiquei a semana martelando a ideia e me lembrei da dinâmica do sapato. Conhece? Um exercício que nos força a trocar os sapatos com alguém para buscarmos a empatia por aquela luta, a vida que não a nossa. Tenho pensado sobre essa proposta - Experimentar outros calçados, novas vestes de mim.

Se você é daqueles que, como eu, costuma organizar tudo (inclusive a vida do fulano, às vezes quando ele nem pede), sabe o peso que é ser a juíza; pessoa que coordena, cobra, contemporiza as divergências, faz check lists e procura encaixar as rotinas nos afazeres. Outro dia me chamaram de general. O apelido não é novo. Uma faceta que persiste, apesar dos desapegos da velha estrada. Descaminhos.

Só que a general quer sair de férias. Cansou de ser a memória, a secretária e o despertador dos beltranos. Quer calçar a sandália do rebelde, usar os óculos do louco e ver o mundo de ponta cabeça. Vê se pode! Dizem que é libertador e ninguém morre com isso.

Mas ela sabe que não é fácil deixar de bater o ponto de uma hora para outra, pois tem o hábito de encaixotar os dias, busca praticidade. No afã de organizar, acaba bagunçando tudo por dentro e ecoa um ruído lá fora. Dimensionou errado. O oceano não cabe numa taça.

A general não quer mais louça suja pesando nos ombros, nem se afetar com roupa jogada gritando "me arruma". “Que vá sozinha para o cesto. Essa guerra não me pertence”, avisou completando que precisava de folga.

Dia desses ameaçou pedir as contas. Esbravejou, vejam só. “Que os copos molhados se acumulem, que a mesa receba arranjos, papéis amassados e moedas. Preciso de descanso!”. Deu de ombros e me deixou falando sozinha, enquanto eu teimava em alocar um material na estante.

Desde esse episódio, a vida anda descarrilhada. A general sumiu. Só espero que não apareça de surpresa se eu entrar numa casa bagunçada, ou venha me incomodar pela sujeira dos outros, obcecada com fios de cabelos espalhados pelo chão. “Dos meus pelos cuido eu, o resto que se descabele!”, direi a ela.

Se o prazo não for cumprido, por favor, não conte a general. Fiz o meu melhor e me recuso a adoecer de culpa. Afinal, o trabalho é cooperação, então só pegarei a minha fatia desse bolo. O tempo, precioso, tem me assobiado.

A general passeando e o relógio emudeceu. Agora, pequenos gestos vêm roubando lágrimas. Quanta ousadia! São as delicadezas diárias que tornam a gente mais gente. Uma mensagem surpresa no meio da tarde, pipoca à noite sem motivo, abraço sem planos, um café sem avisar. Há muita poesia a ser apreciada.

O ano vai virar e os meses trazem metas, desafios. Bom sentir esses apuros e sorver a vida aos goles largos de uma sede longa. Para 2017, no entanto, o objetivo é não ter regras. Pretendo dar uma longa licença a general. E se for preciso, quebrarei pratos, para lembrar que dentro a gente é água.

Que possamos nos virar do avesso, se assim for o chamado. Trocar de roupa sempre que oportuno. Dar folga a generais, certinhos, donos da verdade. E trocar de veste, sempre que de novo apertar por dentro.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A vida que queremos ter


Assistindo ao filme “Os Desnorteados”, recebi uma dica valiosa para o próximo ano. O pai do protagonista recomenda: "Filho, escolha a vida que você quer e não a vida que você pode ter". O conselho vem em momento oportuno; dezembro, revisão das metas e a pertinente questão – “Que vida vamos levar em 2017? A que queremos ou a que podemos?”

Vozes, velhas conhecidas despertam das profundezas para nos chacoalhar - "Querer não é poder!". “A vida está muito difícil, se apegue ao que já tem”. “Você não pode ter tudo”. “Melhor um pássaro na mão do que dois voando”. “Deixe de sonhar. Os tempos não estão para brincadeira”. De certo, você tem suas crenças, fulano tem as dele, e assim arrastamos vários fantasmas guiando nossas ações, principalmente nos períodos de mudança. Mas o que diz nossa própria voz?

Não se trata aqui de apelar para a vida inconsequente, cheia de dívidas que prejudica a si e aos outros. Isso é outra história. Pode ser que, assim como “Os Desnorteados”, acreditemos naquela vida dos comerciais de TV, idealizando que o melhor para nós vem apenas com sorrisos e perfeição. Mas os dias têm seus atropelos e podemos rir com eles.

O filme é comédia besteirol, boa para domingo à noite. Mas com humor caricato, ainda consegue refletir questões atuais: desemprego, crise, a grama mais verde do vizinho e sobre vivermos a vida que os outros esperam de nós. Spoiler à vista.

No roteiro, o ator principal encena um jovem espanhol de currículo recheado, mas recém demitido. Cansado da crise em seu país, vê em um comercial de TV a solução de seus problemas – Berlim está cheia de vagas de trabalho. Então, juntamente com outro amigo desempregado, o protagonista decide tentar a vida próspera nas terras alemãs. Lá chegando, além do choque cultural, passa por apuros financeiros.

A trama se desenrola com o jovem espanhol mentindo para seus pais, que acreditam no excelente cargo ocupado pelo filho, gerente em uma grande empresa alemã. Nada novo sob o céu. O personagem vai escolhendo viver uma farsa para salvar os pais da falência, para agradar o próprio ego e também para prestar contas ao que se espera dele - alguém bem sucedido após anos de estudo.

Fácil apontar o dedo para o espanhol, mas o que dizer de nós? Estamos vivendo a vida que queremos ou a que esperam de nós? Assumir a própria verdade requer coragem, exige romper conveniências, confiar no fluxo, que não avisa sobre as tempestades, bonança ou desafios. A vida que nos cabe, não a do cinema, não segue um roteiro definido, não tem ensaios e não permite troca de protagonista. É valendo!

No fazer diário, será que tomamos a vida pelas mãos? Deixamos ir os projetos alheios e nos apropriamos da nossa rota? Recordo uma oração do terapeuta americano, Bob Mandel, que sugere “Deixar ir, Deixar Deus agir”. Bob nos lembra de que algumas corridas não são as nossas, por isso não é preciso corrê-las. Alguns projetos são executados melhor desacelerando e algumas respostas vêm quando esperamos ao invés de forçar uma solução.

Assim como Bob, “eu rezo para saber o que é meu, quando empurrar, quando permitir”. Como o desnorteado do filme, eu espero ter a coragem de buscar a cada dia a vida que eu quero e não me contentar com a vida que eu posso ter. A todos, que tenhamos a ousadia de ir além da vida que escreveram para nós. 

Texto originalmente escrito para a coluna quinzenal no Blog Repórter Entre Linhas.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Voz além do alcance


Nesse tempo de fala rouca, ser ouvida tem sido um desafio para mim. Devido à cirurgia na cabeça, que afetou consideravelmente minha voz, tenho lutado para expressar minhas ideias e ocupar espaços que antes eram automáticos. A limitação atual me faz refletir sobre o quanto estamos de fato disponíveis para ouvir o outro. Tenho vivido histórias interessantes.

Episódio recorrente tem sido desligarem a ligação na minha cara. Eu digo alô e do outro lado da linha pedem que eu fale com mais força, eu me esforço e do lado de lá reclamam: “Senhora, a ligação está baixa, não consigo ouvir”. Alguns tentam mais, outros menos. Eu ligo novamente, desligam. Uma vez pedi ajuda aos universitários, enquanto minhas palavras entalavam no meio da garganta. Tem sido um tempo de persistência e ponderação.

Até me considero uma boa ouvinte, e sem voz, é o que mais tenho praticado. Nem sempre há espaço para interagir no mesmo dinamismo de antes. Eu que era expert em piadinhas e sacadas cults, agora aceno com a cabeça, esboço um sorrisinho e me faço de entendida. Falas mais enérgicas se sobrepõem ao meu fôlego, ambientes maiores somem com a réstia das sílabas e eu escuto ruídos por dentro. É tempo de observar.

Outro dia me disseram: “Fiquei rouca igual a você. Foi horrível, ninguém me escutava, imagino que seja muito ruim mesmo ficar sem voz”. Pois é, bem vindo ao meu novo mundo peculiar, que não consegue cantar um refrão inteiro a plenos pulmões (em inglês é ainda mais cômico) e que se deu conta de que gritar socorro é quase impossível.

O simbolismo dessa castração (como diriam os analistas) me trouxe apreço pela fala. Quando no passado eu evitava me expor, falar em público (embora ainda difícil), agora tudo que almejo é ser ouvida, falar bem alto, mesmo que para uma plateia vazia. Gritar uns palavrões para liberar a tensão.

No percalço de projetar a voz, percebo que exige do outro paciência, atenção e de fato vontade em conversar com uma criatura fanha e sem ar. Às vezes, para esse outro creio ser mais fácil disparar o blá, blá, blá a perder tempo com uma voz soprosa e infantil. Na vida há um fazer urgente.

Brinco que meu tom está romântico, escuto resignada receitinhas para curar a “inflamação na garganta” – casca de romã, mel com própolis, água com sal... “você vai ver que no outro dia recupera rápido” – No fundo, é mais fácil afirmar com a cabeça do que explicar minha condição. “Está certo minha senhora, eu agradeço.”

Tem horas que bate o cansaço e o jeito é voltar para dentro, onde as perguntas preenchem parágrafos e minha voz continua a mesma. Eu ouço meus acordes como se nada tivesse ocorrido. É estranho. A fala que vem de dentro não mudou, só ficou mais barulhento do lado de fora. Ainda prezo o silêncio para organizar as ideias que pipocam. Calar tem seu valor.

Minha produção não diminuiu. Em alguns dias até faço mais do que deveria e vejo que o corpo pede calma, respeito, limite. Sabe quando a cabeça vai mais rápido e o esqueleto ficou passos atrás? É tempo de fazer menos, de dizer não.

Se a voz falha, há que se escutar o corpo e dar ouvidos à alma. Se do lado de fora nos ouvem menos, do lado de dentro ouçamos mais. O tempo pede silêncio, para escutar a voz além do alcance.