Estava lá de calças baixas quando
a atendente bate à porta: “Senhor, senhor, seu troco.”. “Poxa, justo quando eu
estava finalmente relaxando.”, reclama o sujeito em voz baixa. Poderia ser mais
uma cena de “Os Normais”, mas é um episódio daqueles mesmos de comédia da vida
privada. Foi por essa situação que passou meu amigo (e muitos homens) ao fazer aquele
exame do potinho.
Era uma manhã de sol ardido quando
o dito cujo se dirigiu ao laboratório, com a nobre tarefa de encher o recipiente
com o líquido viscoso. “Fiquei angustiado, extremamente nervoso.”, desabafa explicando
não ter tido a mínima coragem de encarar os que aguardavam na sala para outros
exames. “Todos ali sabiam. ‘Lá vai ele para a sem vergonhice.’. Eu podia ouvir
os pensamentos.”.
As instruções seguintes vieram precisas.
No tom do telemarketing, a atendente disse: “O senhor assina esse papel logo,
porque todos esquecem. Esse é o potinho e o senhor coloca o conteúdo diretamente
dentro, sem tocar com as mãos. Quando terminar, tampe, ponha aqui em cima e
deixe a porta aberta que a gente vai saber que o senhor já saiu.” E ainda confortou:
“Fique à vontade, tranque a porta e não se preocupe com nada. Tenha um ótimo
exame.”.
Ao ouvir a história do meu amigo,
penso nas instruções das aeromoças, com aquela voz sexy e nasalada: “Favor
desatar o cinto. Nas laterais estão as saídas de emergência. Em caso de
despressurização, máscaras cairão. Tenha um ótimo voo.”. Confesso que o riso
afrouxou com essa aventura, mas pelo tom da narrativa, percebi que nem só as
mulheres passam pelos vexames das pesquisas pélvicas.
Além do terror da autoperformance,
existe também o medo pelo desempenho dos terceiros, aqueles pequenos travessos,
os amigos espermatozoides. Serão checados indo e vindo, em todas as direções,
quase pelo avesso. Medirão o volume, a motilidade, a concentração e a morfologia.
Analisados sob todos os ângulos, convertem o tal homem com H àquele ínfimo
reservatório com líquido branco, que determinará se a criatura tem ou não aptidão
para a vida.
E o causo do amigo continua. Sem isolamento
acústico, nem revistas ou vídeos estimulantes, o indivíduo se viu sem aparato
técnico para a imersão. As vozes do exterior eram animadoras. "Ô exame da
peste!”, desabafou um companheiro na sala ao lado, sem notar que alguém lhe era
solidário. “Mulher, meu filho tá doente em casa, com diarreia.”, cochichou uma
das atendentes no corredor.
”Tudo por um filho.”, suspira esse
meu amigo recordando a epopeia. O resultado deu normal, a questão é com a
esposa. Sobrou para ela, como sobra para tantas outras que também se reviram
pelo avesso, levam os hormônios à loucura, injetam inúmeros medicamentos,
coletam óvulos e percorrem uma longa estrada em busca de um filho. Êxito nem
sempre alcançado, via crúcis que não se submete às regras da natureza fácil.