quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A fumaça invadiu o quarto e lembrou o primo queimando folhas secas às 2h da manhã na esquina da casa. Cena muito comum para ele, que duas vezes ao mês, dispunha-se a juntar as sobras das árvores do quintal e queimá-las pela madrugada.
Imagine a cena: o primo saindo da própria casa (interrompendo o sono ou não, vai ver que nem dormiu esperando a tarefa noturna) porque tinha o inadiável compromisso de queimar restos de flora da casa de titia.

Assim era o procedimento porque na vizinha havia um bebê para quem a fumaça era prejudicial. Queimar na rua era menos maléfico.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Curiosamente desde criança Carolina se sentia protegida quando chovia. Mudou-se e a situação virou o inverso. Na nova cidade sentia que o céu ia desabar a cada acúmulo de nuvens ou temperaturas nubladas. Talvez pela cidade em si subverter toda a vida existente às águas que corriam em rios a cada chuva. A terra ali não parecia sorver o suficiente das gotas. Sobrava. E corria para os barrancos. Vertia morros. Preocupava a ela e aos naturais.
Antes, nas terras secas, guarda-chuva não lhe era coisa de gente normal. Agora, companheiro onipresente, fere-lhe o brio e a elegância. Acostumou-se.

Um dia o mundo veio abaixo. Estava na rua, coitada. Jatos de luz rasgavam o céu e aqueles estampidos a ensurdeciam. Destemperou-se. Sentiu-se brejeira. Fazer o quê? Não podia nada, era menor e sem vontade. Tentava fingir não ser com ela, em vão. Escolheu o lugar mais seguro (na sua inexperiente avaliação) e ali, no beco, encolhida girou seus ponteiros. Ah... Carolina sem teto e da terra!