domingo, 7 de junho de 2009

De Mãos Dadas

“Muitas vezes, achamos a vida do outro interessante e a nossa, monótona. Saímos do nosso eixo e perdemos o equilíbrio, pois estamos buscando algo que julgamos não ter. Vivemos como um fantasma faminto. (...) precisamos olhar para o mundo exterior com generosidade. ‘Eu sou rica e eles também’.”
Natalie Goldberg em “Escrevendo com a Alma”

Sou filha de pais separados e fui praticamente criada por meus Avós, principalmente por minha Avó. Durante muito tempo isso não me incomodou, depois me perturbou demais. Quando passei a olhar para os lados e ver meus amigos e suas famílias, foi que tomei ciência da peculiaridade da minha família.

Festas do colégio para mim sempre foram um terror. Havia apenas duas escolhas: não participar e se sentir excluída ou participar buscando um fantasma na platéia. Imaginando hoje, parece cena de filme de sessão da tarde. A menininha com os olhinhos brilhando, bastante nervosa, procurando no público um rosto conhecido, esperando que no último instante aparecesse alguém. Quando era festa do Dia das Mães, ninguém comparecia, mas eu sempre levava duas lembrancinhas para casa. Uma para minha Vó e outra para minha mãe. Era complicado isso e eu me sentia dividida. Se fosse festa do Dia dos Pais, eu não participava mesmo.

Meu desejo de criança era apenas ter um representante da família nas festas de colégio para mostrar meus passinhos ensaiados durante um mês. Geralmente eu dançava para a família da minha melhor amiga. Foi apenas na sexta e sétima séries que meus Avós, mesmo com sua precariedade de movimentos, assistiram a minha performance sentados na arquibancada de cimento do ginásio. Foi na abertura das Olimpíadas do Colégio.

Outro desejo que sempre tive era que meus pais participassem das reuniões de pais. Uma coisa simples assim foi minha vontade de criança durante todo o colegial. Embora eu nunca tenha dado trabalho para estudar ou tenha sido chamada atenção para justificar a ida de alguém ao colégio, eu queria muito ver meus pais participando dessa reunião. Nunca foram. Na verdade, quem sempre me representou foi minha Vó. Ela sempre foi a minha única responsável, mas não comparecia às reuniões, só assinava em meu nome. Eu não entendia isso direito, só lembro que meus pais nunca responderam por mim.

Talvez as crianças de hoje não se importem com reuniões de pais ou festinhas de colégio. Talvez elas nem queiram que a família ponha os pés por lá para não descobrir o que estão aprontando. O fato é que, como a maioria dos mortais, eu sempre estive em busca de aprovação e amor. E nessa semana descobri que o colégio foi o meio que eu acreditei poder obter isso dos meus pais, pois lá eu sempre dei o meu melhor, tirei notas boas e fui aprovada. Apesar de todo meu esforço e dedicação, o colégio não me trouxe o que queria. Mesmo com a Faculdade e em seguida com a Pós-graduação, o amor e a aprovação dos meus pais não vieram. Como muitas crianças, eu ouvia que não fazia mais do que a minha obrigação. E agora me percebo de novo, fazendo mais uma Pós-graduação, buscando ser melhor, ser aprovada, porque se eu tiver conhecimento serei reconhecida (por eles). Descobri, no entanto, que essa busca tem me imobilizado durante muito tempo.

Meus pais não foram às reuniões e nem às festas de colégio. Também agora não virão. Eles não acompanharam minha dança, nem meus passos e não estarão aqui para ver meu atual espetáculo. Eles não morreram. Apenas sempre optaram por caminhos distantes dos meus. E mesmo assim, eu já adulta feita, acabei descobrindo essa semana que eu ainda gostaria muito da aprovação deles.

Essa ficha está tilintando até agora e eu custei a acreditar. Sabe quando você acha que já andou umas boas léguas e se vê em voltas com sentimentos tão familiares que imaginasse ultrapassados?! Assim estou eu em flagrante. Após uma meditação só me vem o sentimento de que tudo bem amá-los e odiá-los. O importante é aceitar tudo isso. Aceitar que embora eu não soubesse, ou não quisesse ver, meus pais continuam sendo um referencial para minhas decisões.

Eu me questiono sobre o quanto de nossa vida, sem nos darmos conta, temos estado sobre a sombra de nossos pais. Lembro da música “Como nossos pais” cantada pela Elis Regina. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. No meu caso, ora tentando superá-los, ora me achando pior do que eles em suas escolhas. E assim, vejo que instituí um sistema de eterna comparação em todas as minhas ações, o que me deixou em vários momentos distante da minha intuição e essência. Eu sabia que minha autocrítica era feroz e devido a isso me comparava a tudo. Ultimamente tenho me comparado aos meus amigos. Mas eu não sabia era que a origem dessa comparação é até hoje a tentativa de superar a necessidade de aprovação e amor dos meus pais.

Essa busca por aprovação tem se revelado uma luta interminável na vida, uma luta sem causa aparente, com o objetivo de sempre provar algo para os outros, para mim mesma, para meus pais. Embora minha Vó, sem saber, tenha feito de tudo para suprir essa falta, descobri que ela não conseguiu. Vejo-me então criança, em pé, sozinha e esperando. Esperando algo que não vem e até hoje não veio. Imagine uma criança que os pais esqueceram de pegar no colégio. Ela fica ali, esperando e esperando. Não há lugar para ir, não há o que fazer, a não ser esperar.

Durante a meditação, decido ir ao encontro dessa criança e tirá-la dali, daquele estado imóvel. Acolho minha criança, ponho-na para dormir e vigio seu sono para que seja tranqüilo e seguro. Penteio seus cabelos, faço carinho, elogio suas roupas, vou às reuniões de pais e festinhas de colégio, ensino vários aprendizados sobre a vida, faço sinais positivos acenando que está tudo bem e pego sua mão quando a vejo com medo e insegura. Passeio de mãos dadas com ela por vários lugares, pela praia, pelo parquinho, dançamos juntas, olho-a com amor e finalmente a vejo sorrir.

Estranho não me lembrar enquanto criança de sorrir. Eu sempre tive inveja das gargalhadas de criança. Achava aquilo tão bonito, tão espontâneo e também queria para mim. E só agora, em três décadas, consigo ver minha criança sorrindo. As cenas seguem e estamos sempre juntas, felizes. Eu acompanho todos os seus momentos importantes, em cada passo a vejo evoluir e crescer, chegando até nossa adolescência. Nessa hora, um sentimento de completude e segurança tomam conta de mim. É uma sensação gostosa de amparo e relaxamento. Uma sensação de que está tudo ok.

Depois de toda essa experiência, vejo a criança vir em minha direção e me dar a mão. Percebo que agora ela é quem está ao meu lado participando dos meus momentos de adulta. Ela me observa e pergunta sobre o que tenho feito, diz que eu não preciso ter medo, que ela está comigo. Vivenciar essas cenas é como imaginar um resgate. Como se fosse uma viagem no tempo. Eu adulta indo ao encontro de eu criança, depois nós duas voltando para o tempo presente. Consigo vê-la aqui ao meu lado, curiosa e me olhando com um ar puro e infantil.

Tenho uma nova companhia. Ela é magrinha e um pouquinho dentuça. Cabelos castanhos, curtinhos e assanhados. Um pouco pálida e muito amável. Ela está me pedindo atenção. Quer brincar, perguntar sobre as coisas. Juntas fizemos um belo almoço de reencontro. Um prato ao gosto de criança, uma saborosa macarronada com refrigerante. Depois assistimos um filme infantil chamado “Happy Feet”. Um filme bonito, engraçado e que curiosamente termina com a frase “Eu amo a minha infância e como queria que esse tempo voltasse.”

Sinto que é chegada a hora de reconhecimento, cura e integração. Um momento de presença, perdão e amor. De agora em diante eu e minha criança iremos caminhar juntas, apoiando-se e amando-se como melhores amigas, como irmãs, como uma só num caminho de luz, amor e consciência.

Eu aceito e a acolho minha criança. Agora estamos de mãos dadas na vida.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A Casa

Com 52 anos de idade, a Casa hoje é uma jovem senhora que passou por quatro gerações e segue numa quinta, porém de desconhecidos. É que a Casa está alugada.

Desfazer- me da Casa é semelhante a dizer adeus a um parente muito amado. Eu não imaginava o quanto até estar aqui em Minas e sabê-la habitada por Outros que não entendem seu valor e sua experiência de vida. O fato é que chegou o momento de dizer adeus.

Hoje, um canto agudo de pássaro que dizia “bem-te-vi” lembrou minha Casa. Eu costumava acordar com os passarinhos. Adorava isso. Sentia-me no campo em plena cidade. Era um privilégio. Os dois pés de acerola no jardim acolhiam vários passarinhos. Quando o vento soprava, todos voavam de uma vez. Era um movimento repetido e único. Merecia uma poesia e uma foto. A Tardinha também trazia esses sons bucólicos. E por mais que houvesse tédio ou tristeza, a essa hora reinava um silêncio de prazer e esperança. Era um momento de fé e desapego. Tenho saudade.

A Casa tinha dessas coisas agradáveis. No quintal, onde um dia viveram mangueiras, coqueiros, goiabeiras, bananeiras, pés de ata, limão e mamão, agora só há a cacimba e grama alta. Tudo cabia ali. Do passado restaram apenas os dois pés de romã e a planta que dá a “flor de laranjeira”. Recordo que no final do dia, o cheiro da flor costumava despertar e caminhar por uma fumaça invisível até me encontrar, no cômodo que fosse, da minha amada Casa. Eu corria ao encontro, juntava uns raminhos e colocava num copo daqueles de requeijão o buquê fresquinho para perfumar meu quarto. Era um aroma virgem e calmante.

Na minha infância, goiaba dava aos montes. Fazia lama e chamava mosca. As manguitas (pequenas mangas docinhas) caíam no quintal num som surdo, meio oco. Tudo acontecia escondido, mas havia movimento na Casa. Lembro do doce de goiaba da minha Vó. Bem doce, era verdade. Nunca gostei muito. Preferia o de mamão e a própria goiaba em fruta bem verdinha. Na mordida, chegava a doer o maxilar. Sabe aquela dor agulhada bem fininha? Pois é, eu gostava.

Havia um lado da Casa em que raramente andávamos. Uma varanda lateral, de piso vermelho em cerâmicas pequenininhas. Não sei por que a porta para esse terraço vivia fechada. Isso impedia a Casa de respirar. Em tempos não muito freqüentes, a Vó abria todas as portas e janelas. Era nas faxinas. O vento dava e trazia luz, arejando os cômodos. A Casa era escura.

Pela Casa passaram empregadas, carros, cachorros e mortes. Minha bisavó e Avô morreram lá. Meu tio quase também. Saiu na ambulância numa noite de domingo, meio sem vida. Tentou se matar. Conseguiu. No quintal jazia ainda a Bec, nossa pequinês de quando eu era bem criancinha. Foi também numa noite de domingo. Demos leite, ela estava quietinha e depois morreu. Eu não tinha medo da Casa. Só às vezes de noite. Uma vez, senti a cama vibrar. Tinha adormecido, jogada com mais duas amigas. Não ligamos. Estávamos exaustas em juventude. O tremor não nos derrubou.

Agora a Casa está lá, fechada para mim, abrigando outras histórias. As lembranças eu trouxe. Tiveram as quedas da minha Vó, as brigas com minha mãe, a bebedeira do meu Avô, as loucuras de livro do meu Pai, as farras com os amigos, os estudos de colégio, as reuniões tão animadas e gostosas. A Casa estava aberta para todos nós, irmãos-amigos. Ela acolhia, ouvia, vigiava. Revelou até gravidez de amiga.

A Casa chegou a ser conhecida como “A Casa do Pinheirão”. Uma árvore enorme, alta de verde seco, empinada para o céu, ficava na entrada, quase a desabar sobre os quartos. Eu vivia pedindo por medo que a tirassem dali. Um dia, cheguei da escola, a rua interditada e os bombeiros cortando o Pinheirão. Fiquei com dó e culpada. Deu um nó de espanto. Poxa, não precisava cortar tudo, apenas podar! Ficou um vazio. Não era mais a “Casa do Pinheirão”.

Tinham também as roseiras. Minha Vó adorava roseiras. Amarelas, brancas e róseas. As vermelhas eram mais raras. Uma noite, eu criança de cinco anos no colo do meu Avô bêbado, caí junto com ele no meio do roseiral. Fiquei toda ralada. Lembro de mim só de calcinha, em cima da mesa vermelha das refeições, toda arranhada. Minha Vó passando mertiolate, eu chorando com o ardor. Não me lembro de beijo nem carinho, só o vermelho mertiolate. Meu Avô ficou lá, estendido na terra das roseiras.

A Casa era assim, cheia de notícias. Hoje, mal sei dela pela imobiliária. Os vizinhos dizem boatos maledicentes. Antes devir para Minas, fui lá me despedir. Seria o meu ritual, quase igual ao de quando me mudei de lá para uma outra casa, bem menor e alugada. Não consegui entrar. O inquilino não apareceu.

Desde então, guardo a Casa em memória. Escrevendo esse texto eu chorei. É muita vida que só eu sei. Aqui em Minas, despeço-me dela. Sinto que é chegada a hora. Está sendo um processo lento e necessário. Seu futuro, ainda é incerto. Nesse movimento, porém, tenho descoberto que minha Casa sou eu. E não importa aonde eu vá, a Casa sempre estará em mim.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Travessia

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia...
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
(Fernando Teixeira de Andrade)

Estou no momento da travessia. Bem no meio daquela ponte de madeira que se move para os lados. Bem naquela hora que se olha para baixo e dá um medo mortal. Medo de cair no abismo e virar história.

Estou no meio da ponte, quando se olha para trás e de acordo com o caminho percorrido, não se sabe qual a melhor estratégia: voltar ou continuar apesar de todos os riscos.

Parece cena de Indiana Jones e é assim mesmo que tenho me sentido desde semana passada. Na corda bamba. Ainda não consegui trabalho, as finanças acabando e a crença no projeto começa a falhar.

Pela primeira vez, desde que cheguei em Minas, começo a duvidar de meus propósitos por aqui. O mercado está mais fechado do que imaginei e estou sem fôlego e perspectivas aparentes. Além disso, cheguei num nível financeiro que nunca beirei antes. Ou seja, num limite desconhecido e apavorante.

Como disse Fernando Pessoa, para mim chegou o tempo de abandonar as roupas usadas que já têm a forma do meu corpo. Foi por isso que vim parar em Minas, embora já me perca nas dúvidas e porquês. Sinto-me dia-a-dia testando a fé que tenho em mim. A cada manhã conheço mais uma camada de Cristina. Como diz uma amiga, é um processo de desnudamento que me leva a total vulnerabilidade.

Sinto medo, vergonha e muita frustração. Paciência e ansiedade concorrem. O bom senso e amigos procuram me tranqüilizar. Mas sabe quando a gente elabora um plano, uma estratégia, e vê todo o arsenal se esvaziando?! Primeiro os peões, depois os cavalos e agora tento salvar meu rei.

Mas será que esse rei está na minha barriga ou no meu coração? Já não sei mais. Desculpem o desabafo, mas está difícil por aqui.

Para mim, é o momento de rever conceitos. Já estou nesse caminho há um tempo e agora é como se tivesse chegado numa encruzilhada. Eu que sou uma pessoa muito reflexiva, característica que começo a desgostar, tenho olhado para mim como aquela boneca bem vestida, que freqüentou bons colégios, foi excelente aluna, fez faculdade, vários cursos e agora está só diante de si com uma bagagem que não serve para nada. Pareço escutar minha mãe desdenhando de mim, falando essas coisas e me questionando pra que eu fiz tudo isso se ganhava ume merreca. Vejo seu sorriso zombando do meu esforço em buscar o sucesso.

Em conceito, tenho toda a consciência de que vão dizer: “é uma passagem”, “tenha paciência”, “é questão de tempo”, “você está sob grande aprendizado”. Também imagino que não deve ser interessante aos leitores ler esse tipo de texto. Cada um segue com suas próprias pedras. A questão é que no momento não consigo ser outra coisa além dessa realidade. Estou perdendo a fé em mim.

Certamente você pode ter passado por isso um dia na sua vida. E pelo visto, hoje está aí, seguindo mesmo com algum vento contrário. Sinto admiração por isso. Ontem mesmo desejei ser outra pessoa, ser como meus amigos que são muito mais estáveis e têm mais mérito que eu. Eles dirão que o gramado do vizinho é sempre mais verde. Eu sei disso, mas confesso que desejei ser como eles.

Eu não quero piedade, nem pessoas me dizendo que sou ótima. Eu quero solução. Quero um trabalho, quero ter dinheiro para me bancar e quero seguir com minha pós aqui. Estou rezando todos os dias pedindo por ter feito as escolhas certas. Porque fico pensando que sou doida em ter vindo para Minas e ficar me testando nesse limite. Isso só pode ser coisa de gente doida mesmo. Eu assumo!

Também não quero ter medo de voltar. No momento voltar significa para mim um fracasso. Sei que na volta encontrarei as portas abertas. Mas não sei como estarei. Quem serei eu nessa volta.

Se agora me juntei à massa sem trabalho, imagino o que esse contingente sente todos os dias ao por os pés para fora da cama e ver que tudo continua sem perspectiva. E deve ser muita gente capaz. Eu me pergunto o que fazer com todo esse conhecimento que guardamos, com toda essa inteligência, com essa promessa de um futuro bom.

Se alguém souber que me diga, porque estou em plena travessia em busca do próximo passo. Encerro aqui com um texto de Nelson Mandela que recebi de um amigo e me parece sugerir algo.


“O nosso maior medo, não é sermos inadequados.
O nosso maior medo é ter mais poder do que podemos medir.
É a nossa luz que nos assusta e não a nossa escuridão.
Perguntamos a nós mesmos: quem somos nós para sermos brilhantes, talentosos e fabulosos?
Na verdade, QUEM É VOCÊ PARA NÃO SER?
Você é uma criança de Deus.
Fingir que é pequeno não ajuda o mundo.
Não há nada de inspirador, em se conter, para que as pessoas não se sintam inseguras perto de você.
Estamos todos destinados a brilhar, como crianças.
Nascemos para manifestar a glória de Deus dentro de nós.
Que não vive só em alguns, vive em todos nós.
Quando deixamos a nossa própria luz brilhar, inconscientemente permitimos que outras pessoas também o façam.
Quando nos livramos do medo, a nossa presença automaticamente liberta os outros também.”

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vivendo Duas Vezes

Semana passada comecei a ler um livro muito interessante indicado por uma amiga: “Escrevendo com a Alma” de Natalie Goldberg. Essa leitura veio em boa hora, pois está casada com o meu momento de escrever.

A autora, adepta do zen-budismo há trinta anos, relaciona continuamente o ato da escrita com a meditação. Prática essa que também me cativa. Segundo Natalie “escrever significa lidar com toda a sua vida”, com esse material interno rico em experiências. Escrever significa entrar em contato com as primeiras impressões sobre as coisas, aquelas impressões cheias de frescor e inspiração que ainda não foram tolhidas pelo nosso ego. Essas idéias iniciais detêm uma energia extraordinária. São cheias de vida, verdade e sem julgamento. É quando estamos mais perto da essência das coisas.

Natalie revela ainda que os escritores vivem duas vezes, porque param, olham de novo para sua vida, repensam-na, são meio bobos. É assim que me sinto a cada texto. Toda a vida passa em flash até encontrar aquele item da prateleira que tem o ingrediente o qual preciso.

Falando em primeiras impressões, lembro claramente de quando ouvi Enya pela primeira vez. Foi um momento mágico que guardo até hoje. Acordei de manhã para caminhar com meu grande amigo. Fazíamos isso de forma rotineira, na busca de equilibrar corpo e saúde. Após nosso percurso tradicional, passamos por sua casa e entramos para acalmar a sede. Sentamos na sala para as nossas conversas profundas e amenas, as quais costumávamos ter a perder de vista as horas. Tenho muita saudade desse tempo. Refletíamos sobre a vida com leveza e ânimo. Era divertido e trazia cumplicidade.

Então, meu amigo disse que ia me mostrar um CD que acabara de comprar e que certamente eu gostaria muito. Falou ainda que a música era coisa de outro mundo. Bastaria eu escutar. Segui tranqüila à espera daquele alumbramento. Não podia crer que era essa cocada toda que ele falava, pois em nossa juventude tínhamos o excesso no encalço. Sorridente, vi-o apertar o play.

Aos primeiros sons lembro que fui paralisando. Aquilo era diferente de tudo que já tinha ouvido até ali. A música era serena, vasta e tocante. Nossos olhares se cruzaram e ele entendeu que eu também estava chocada. Pensei em falar, mas palavras diminuiriam aquela primeira vez. Larguei-me na poltrona e fechei os olhos. Permaneci imóvel para não afetar nenhum detalhe. A música entrava por todos os poros, gerando uma energia gostosa de satisfação, êxtase e tranqüilidade. Senti meu corpo expandir e o mundo ficar mais possível e simples. Meu coração acelerou com o aumento do ritmo e parecia que não ia mais caber no meu peito. O som varria toda a casa, o quarteirão, o bairro, alcançava toda a cidade. Virava um cogumelo de luz, juntando todas as coisas em ondas de calor e vento. Senti vontade de chorar porque era algo novo, lindo e ao alcance.

Ouvimos uma, duas, três, quatro músicas. Eu estava estupefata! Como podia existir no mundo tal melodia?! Éramos tão novos e aquelas músicas aquietavam nossa alma urgente. Eu me arrepiava e os olhos enchiam d’água. Calei porque a certeza do que ouvia era mais forte que qualquer argumento. Eu e meu amigo participamos juntos daquela descoberta perfeita. Havia sintonia e liberdade para sentir. Enxerguei-me um pouco mais pura naquele momento. A partir dali passei a admirar a mulher, quase lenda, meio bruxa, um mistério, chamada Enya.


Guardo viva essa lembrança porque, além de prazerosa, faz reviver a disponibilidade em abrir-me para o novo. Lembro-me da primeira vez que provei pudim, senti estranheza e sabor. Recordo do meu primeiro velocípede, da primeira vez que andei de trem, do meu primeiro animal de estimação (era um pinto, acredita!), do meu primeiro beijo que causou alvoroço nos amigos.

As primeiras impressões são cheias de vida, verdade e sem julgamento. É quando estamos mais perto da essência das coisas. Parece que um sino toca dentro de mim, uma energia vibra e faz cócegas. Dá uma vontade louca de sair correndo, de braços abertos, tentando abarcar o ar que passa. Nessa hora só existe esse momento que é imenso, não cabe em letras nem cores, é iluminado e único, e me faz ser mais gente de novo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Marcelino Freire - conto "Da Paz"

Vale a pena acessar para ver esse conto lido pelo próprio autor, Marcelino Freire, um pernambucano, ótimo escritor.

http://www.youtube.com/watch?v=treQ9XXNQas&feature=related

Fazendo as Pazes

A semana que passou foi de muita introspecção. Para ajudar, acabei lendo dois livros e vendo dois filmes que, coincidentemente, seguiram o mesmo foco: o passado.
Os livros foram “Vencendo o Passado” de Zíbia Gaspareto e “Uma Vida Inventada” de Maitê Proença. Os filmes, “Divã” de José Alvarenga Jr., inspirado no livro de Martha Medeiros e “O Passado” de Hector Babenco.
O que tudo isso tem em comum? A lida com o nosso conteúdo passado.

Muitas vezes nos encontramos presos ao passado, em geral sem o saber, por não processarmos determinados acontecimentos, ou mesmo porque passamos por cima de uma situação com a velocidade inapropriada, não destinando a ela uma atenção um pouco mais demorada para aquilo que precisava de apreciação. E assim, acaba que incorremos de formas diferentes em mesmas histórias.

Eu que busco me olhar do avesso há um certo tempo, vejo que somos um poço sem fundo de auto-descobertas. O que parecia óbvio para nossos amigos confidentes, para todos aqueles que nos conhecem para além do palco, quando nos cai o véu surge aquela conhecida sensação de bobo. Uma doce ingenuidade, junto com um sentimento de perdão permitido aos que andavam em círculos.

Ao fim da semana cheguei a conclusão que precisava fazer as pazes comigo mesma. E eu que nem sabia que havia brigado. Pois bem, estava eu diante da coordenadora do meu curso de pós-graduação, conversando sobre o meu perfil relacionado a escolhas de trabalho que fiz ao longo da vida. Agendei um horário com ela para analisarmos minhas reflexões, próprias do momento que vivo. A coordenadora me questiona: “Como você está fazendo para lidar com essa forte convicção que em alguns casos tende ao autoritarismo? Isso está muito presente no seu perfil.” Eu respondi sem jeito: “Ora professora, eu respiro, fiz análise, converso, peço desculpas. Já melhorei bastante sabe, quando é mais forte eu sufoco, escondo, me critico....” E lá se ia eu caindo na real que meu autoritarismo estava dentro de mim desde sempre.

Contextualizando, a convicção é a disposição que empregamos para seguir nossas próprias idéias. Juntamente com a independência e o confronto, esses três elementos compõem uma parte da personalidade chamada de determinação. Uma pessoa determinada de forma equilibrada é comprometida, motivadora. Quando em doses excessivas pode tender ao autoritarismo, ou seja, imposição. Ocorre que na vida real, a determinação tem uma relação bem estreita entre a assertividade e o autoritarismo.

Esmiuçando mais a conversa com a coordenadora, perguntei de que forma esse aspecto B da personalidade pode ter alguma utilidade em vida, como pode alguém utilizar uma coisa tão ruim para o bem. Ela então me esclarece que o autoritarismo tem sua serventia sim, sendo necessário em situações de emergência, importante para alguém tomar a frente das soluções, bem como tem o perfil das causas sociais, nas pessoas ou instituições que lutam por seus valores, como é o caso do Greenpeace.

Então, me senti assim bestinha. “Ah tá. Então a senhora está me dizendo que posso redirecionar essa energia para algo que seja mais apropriado ao invés de negá-la dentro de mim? – comentei me refazendo” Eu pensei cá comigo: “Oh meu Deus, mais isso é lógico! Que coisa, esse autoritarismo que não me deixa!” Coisas de minha mãe e meu avô... E agora, minhas também.

Compreendi então que há tempos venho lutando com meu perfil, escolhendo caminhos que não condizem comigo, numa busca louca de acertar, de ser alguém melhor. Só que não dá para ser outra pessoa toda a vida. Alguma hora a parede vai rachar. Nesse momento, encontro-me olho a olho com o passado. Acertando as contas e me encarando para me assumir.

Percebo que há algo dentro de mim querendo ruir, sair. Já não dá mais para ser como antes. Não adianta tentar me perder em mim, pois acabo me achando. Um dia isso sempre acontece e desculpas já não cabem.

Assim amigos, descobri uma porção de coisas das quais não gosto e se possível não quero mais fazer. Eu não gosto de trabalhar com atividades externas (visitas, prospectar vender), não me apetece ter que lidar com uma grande quantidade de pessoas diariamente, não produzo bem ao trabalhar com muita subordinação, não me agrada falar em público (eu lido e processo minha idéias melhor quando as escrevo), entre outras coisitas. Ao assumir tudo isso, sinto que tiro um peso que não precisava carregar todos esses anos e não sei o porquê essas pedras foram parar no meu bolso.

Sabe quando a gente olha pra trás e se pergunta “por que eu aceitei aquela proposta?”, “por que eu fui por aquele caminho e não pelo outro?”, “por que não insisti um pouco mais no que tanto queria”, “por quê?” Mil porquês sobram no pensamento. O fato é que entendi que, no meu caso, eu escolhi tentar ser melhor naquilo que não era o meu talento. Quem me disse isso? Uma pessoa famosa, Peter Drucker. Já ouviu falar nele? O “pai do management” em seu livro “Desafios Gerenciais para o Século XXI” me ensinou que “a maioria das pessoas concentra-se em melhorar nas áreas em que tem baixa competência, o que é um grande equívoco...A concentração deve ser nas áreas de alta competência e aptidão. Pois é preciso mais energia e muito mais trabalho para passar da incompetência para a mediocridade do que para melhorar o desempenho de primeira classe para a excelência.”

Como disse a coordenadora, minha urgência em escolher talvez tenha sido pela minha essência pragmática. Na vida, eu preciso entender o porquê das coisas e qual as utilidades, para assim me inserir no contexto. Atualmente estou sem respostas, apenas um punhado de perguntas. O que precisamos ainda resgatar do nosso passado? O que mais não aceitamos em nossa personalidade? Em que temos empregado o tempo desnecessariamente?

Indo adiante, reconheço aqui meu autoritarismo, acolho essa minha face B, pois assim como em quase tudo, há um lado bom nessa característica. Hoje, mais do que ontem, aceito-me como sou e busco um caminho que tenha mais a ver comigo. Meu olho, prometo, há de brilhar.

domingo, 19 de abril de 2009

Carta a Vizinha

Sra da casa das plantas,

Segue carta de sua vizinha recém-chegada. A senhora ainda não me conhece e eu tampouco tive o prazer de apertar sua mão. Localizando-a: dentro de seu jardim, a senhora olhando para a rua, fico exatamente a sua esquerda, no andar de cima.
Faz um mês que da minha janela observo sua casa sempre em reforma. Primeiro foi uma grande obra para retirar uma linda palmeira que tapava a visão de sua varanda. O movimento durou duas compridas semanas, incluindo o domingo. Ao final, em um carro, vi sair a imponente árvore a ser transplantada para outros terrenos, acredito eu. O projeto se fez em cortejo. De meu escritório, acompanhei tudo.
Como entendia findada a reforma agrária em seu pátio, despreocupei-me. Para minha ingrata surpresa, os dias se seguiram com novos projetos de replantação. Percebo pela quantidade de flora em sua morada, que lhe há um grande apreço pelo verde. Confesso que eu mesma sou uma grande fã da cor e de tudo que envolva vida nesse sentido.
Ocorre que passo os dias a estudar e a escrever, prática antiga e só agora rotineira. Vim parar em sua cidade com esse fim. E como o ofício requer concentração, tenho sido alvo de idéias rompidas e pensamentos desfeitos. Ora marteladas invadem minhas páginas, ora o seu mimoso casal de pinchers late sem pausa para fôlego, ora a senhora mesma, em sua voz peculiar e alta, não permite a construção de um raciocínio lógico em meus escritos.
O fato é que uma vez que não fomos apresentadas, adiei esse esperado encontro para um motivo mais plausível baseado em alegrias e felicitações. Talvez os parabéns pela nova disposição de suas árvores. Talvez a curiosidade por ver em seu terreno uma pequena capela. Rezam missas? – pergunto-me às vezes. Assuntos enfim mais agradáveis hão de nos fazer conhecer uma a outra. Assim sendo, mudei meu humilde escritório para minha sala.
Devidamente instalada, vejo em frente a me inspirar um pequeno prédio de dois andares, com pintura em dois tons de verde. Perceba que o tema ainda me segue. O telhado é gasto e abriga cinco antenas de TV. Ao todo, oito janelas se enquadram no meu ângulo de visão, sendo que quatro delas estão entupidas de roupas em cores variadas, como um moderno varal de um pombal, permita-me a comparação. Daqui vejo um pano de prato branco ao lado de um par de tênis pegando sol no andar de cima. Logo abaixo, secam uma camisola velha desbotada, bem como roupas de cama, mesa e banho em cores diversificadas. Curiosamente não há nenhum estampado.
Revelo-lhe ainda que, embora a paisagem seja pouco inspiradora e o silêncio maior do que antes, o que me chama a atenção é a rotina quase privada do vizinho ao lado esquerdo de minha morada. Participo agora da faxina da sexta-feira, dos passos do filho mais velho chegando tarde da noite e do cheiro dispensável de cigarro que num vento desavisado escapa da porta do vizinho e se divide entre a escada abaixo e a fresta da porta de entrada de meu “ap”.
Portanto, vizinha da casa das plantas, enumero e lhe exponho minhas alternativas. Desde minha mudança interna devido seu projeto ambiental, fico entre três opções a decidir qual mais impele o meu senso de produção: a reengenharia de sua casa, a pintura surrealista do prédio em frente ou o intenso dia-a-dia do meu vizinho à esquerda. Registro ainda que as duas últimas opções são indissociáveis.
Espere um pouco. Escuto algo...Ouço agora mesmo, sussurrando pela janela do meu quarto (que fica aos fundos de onde estou, mas de frente para a rua do meu edifício) o sambão do vizinho de baixo. Um CD acústico, com o show de seu conjunto preferido, lembra-me da tão falada globalização.


Assinado: A Vizinha recém-chegada do prédio Maria Madalena

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O que nos mantêm unidos?

Nesta Páscoa, tive a oportunidade de conhecer uma cidade aconchegante, cheia de natureza, religião e história. Um paraíso em quedas d’água chamado Carrancas.

“Duas caras feias que se olhavam. Dizem os antigos habitantes que essa foi a origem do nome ‘Carrancas’. Uma formação rochosa, avistada pelos primeiros bandeirantes que passaram pela região, batizou esta cidade mineira. Abençoada por uma natureza exuberante e cercada de nascentes, Carrancas é mais um paraíso perdido das montanhas de Minas, onde é possível e preciso esquecer da vida e se entregar às delícias de suas águas e paisagens.” (Marcelo JB Resende)

Localizada ao sul de Minas, a 279 Km de BH, Carrancas é uma das três principais vertentes da Estrada Real (rota oficial entre as minas de ouro de MG e o porto de Parati - RJ no século XVIII). A cidade integra ainda o circuito turístico Trilha dos Inconfidentes, do qual fazem parte também as cidades vizinhas de Tiradentes e São João Del'Rei.

Segundo o dicionário Michaelis Carrancas significa “1. Cara muito feia, que indica mau humor. 2 Máscara, caraça. 3. Cara feia de bronze, pedra etc. em chafariz, tanque ou edifício.” Folclore ou não, na viagem encontrei algumas carrancas pelo caminho.

Viajei com um grupo de amigos. Após três horas e meias de curvas, montanhas, e muito verde, chegamos quinta à noite no sítio do seu Oswaldo. O lugar era um grande descampado, com algumas árvores à margem, restaurante central, banheiro masculino e feminino na lateral e pequena estrutura para churrasco coletivo. Ao fundo, ouvia-se o movimento dos carros na estrada e o som da água corrente de um pequeno riacho. O grande diferencial, no entanto, era o banho quente somado a simpatia do proprietário.

A lua cheia, céu estrelado, iluminava várias barracas já instaladas antes de nós. A temperatura baixa inspirava um clima de romantismo e vida simples. Na mala apenas o essencial. No espírito, a leveza da aventura e do desconhecido. Nesse clima, descarregamos o carro, montamos as barracas, acendemos o fogareiro e no estilo escoteiro fizemos um delicioso cachorro-quente. Estávamos unidos para viver bons momentos.

Manhã seguinte era sexta-feira da Paixão. Carrancas estava toda fechada. A cidade parecia um deserto. Por ordens do padre, figura que comandava com pulso a cidade, estava proibida a venda de bebidas, carne e camisinha, além de som alto e qualquer tipo de atividade comercial. A população seguia à risca as regras do pároco enquanto se preparava para a encenação à noitinha.

Onze horas da noite, o sino badala, dois homens sacodem um curioso instrumento feitos de placas de metal. O som evoca o cortejo, uma longa fila circulando a praça central anda devagar em direção a Matriz Nossa Senhora da Conceição das Carrancas. Igreja belíssima, construída na primeira metade do século XVIII, toda em quartzito, com pinturas do discípulo de Aleijadinho.

Toda a cidade estava ali, na sua melhor roupa, expressão compenetrada, unidos pelo catolicismo, segurando pequenas lanternas, para olhar o corpo de Jesus velado na Igreja. Uma amostra espetacular de fé, envolvimento e conservação da cultura local. Um movimento bonito de se ver.

Sábado de aleluia seguiu tranqüilo. De dia cachoeiras, de noite a vida de camping. Em meio a tantas barracas, cada uma unida por sua história em particular.

Era tarde da noite do sábado. Num movimento alegre, quase como Woodstock, foi chegando gente de todo lugar no restaurante do seu Oswaldo. Numa só tribo, juntaram-se os beberrões aos alternativos estilo hippies, aos reservados, mais os churrasqueiros e até os menos afeitos a barulho. As vozes cantavam Gilbero Gil, Zeca Baleiro, Raul Seixas, Nenhum de Nós. A gaita, o violão e a bateria improvisada, uniram-se tornando a noite mais especial, com clima de Supercine.

Envolvidas pelo calor do momento, três bêbadas alegres brindavam fervorosas a recente solteirice. Em tom de desabafo comentavam que àquela altura deveriam estar casadas. “De agora em diante, tão cedo não queremos saber de casamento. Um brinde a solteirice!” – gritavam com fôlego renovado. E cantavam, brindavam, desciam ao chão, com a alegria frouxa, guardada há tempos para o momento a dois. Estariam felizes ou afogando as mágoas? O que poderia ter acontecido para o rompimento do noivado? “Eu quero é ser feliz! O que tem de mal em sermos nós mesmas?!” – questionavam-se todas ao mesmo tempo, em crescente sintonia, unidas pelos mesmos roteiros já vividos. No dia seguinte, estavam impecáveis tomando Todinho e misto quente, com a certeza de que iriam repetir a farra juntas.

Do lado de fora do restaurante, um casal beijava-se ardentemente, unidos pela ânsia dos descompromissados, curtindo o breve momento que não se repetiria. Após uma sessão de amassos, voltaram para a roda da cantoria, engajando-se facilmente na letra da próxima música, abertos a novos olhares. Estavam ali, sorridentes, vivendo o momento, sem julgamento e maiores pretensões. Estariam certos, errados? Há por que julgá-los?

Ao lado, um casal aparentemente romântico tinha seus momentos de franqueza. “Cláudio, você precisa ser menos dependente de mim! Fica esperando sempre pela minha ajuda” – gritava em voz alta a namorada, sem atentar para a platéia ao redor. “Denise, não precisa mais, pode deixar que eu resolvo. Muito obrigada!” – respondia o namorado exposto e indignado. Os papéis pareciam trocados. Ela o homem da relação, ele a mulher magoada com a rispidez do diálogo. No dia seguinte, desarmaram a barraca, tomaram café pensativos e entraram no carro mudos, com a cara fechada um para o outro. Como seria a viagem de volta? Haveria conversa na estrada ou se manteriam monossilábicos até em casa? A relação sempre fora assim ou estavam naquele estágio no qual um acreditava contribuir mais para o relacionamento do que o outro? Até quando estavam dispostos a seguir? Na balança, o peso de ganhos ainda seria maior do que o das concessões? O que naquele momento os mantinha unidos?

Próximo dali, um moço pensava na vida. Em sua barraca iglu, colchão inflável, edredom quentinho, planejava o que iria fazer quando voltasse a cidade. Romperia ou não com a namorada? Fazia quatro anos e meio de relacionamento e ali, naquele instante, na calma do acampamento, não sentia saudade dela. Não havia a mínima vontade de ligar e não sabia mais o que os mantinha unidos. Os amigos o questionavam o porquê da retomada do namoro. Ela não tinha nada a ver com ele. E há muito que ele concedia suas expectativas e desejos, acreditando que um dia as coisas iriam mudar. Rompera uma vez e confessou que voltou mais por comodismo. “Sabe como é, sábado à noite, sozinho, a gente sente falta.” – refletia baixinho. No momento, estava perdido por não conseguir planejar um futuro em comum. “Então, para que ficaremos juntos?” – repetia a pergunta para si. Estava disposto a continuar abrindo mão do que queria para si? Amava a ponto de sempre adaptar-se ao estilo da namorada? Saberia ficar só? No domingo pela manhã, desarmou a barraca com o pensamento distante. Embora interagisse com os amigos, estava apreensivo com os rumos que daria a seu namoro.

No restaurante, o som da batucada continuava baixinho. Quebrando a melodia da noite, ouvem-se gritos no lado esquerdo do acampamento.
- A carne queimou e a culpa é minha?! – gritava indignada uma mulher de voz estridente.
- Cala a bocaaaaa!! Todo dia a mesma coisa! Chegaaa! – berrava o homem, suposto marido.
- Eu vou embora. Não quero mais ficar aqui. – falava chorosa a amiga.
- Que droga Amanda! Você vai ter que ouvir. Vai sobrar pra mim de novo! Eu gosto de você, mas a culpa não foi minha! – desabafava a primeira mulher.
E a discussão seguiu por mais meia hora, entre xingamentos e declarações de amor bêbadas, marido quase infartando, filha chorando e pedindo para a mãe parar com aquilo, amiga dizendo que iria pegar estrada naquela hora. Os diálogos se misturavam e refletiam sentimentos confusos, de pessoas perdidas na própria relação.

Os ouvintes estariam se questionando a que ponto tinha chegado aquela relação. O que ainda mantinha aquela família unida? E o casal amigo, há muito participava daquele tipo de discussão? Que outras performances existiram antes dali? Na manhã seguinte, a paz assentava como se nada tivesse acontecido.

Domingo de Páscoa. Barracas desfeitas. Clima friozinho, café quentinho e uma longa estrada cheia de curvas para casa. No caminho, lembro das histórias que presenciei e me pergunto: o que nos mantém unidos?

Podemos nos unir pela fé como a cidade de Carrancas, pelos bons momentos, apenas pelas lembranças, pelo amor, pela raiva ou dependência, pela ilusão e até mesmo pelo comodismo. É certo que participamos de vários grupos sociais, por diversos motivos, usando carranca ou sendo nós mesmos. Ter sempre em mente o porquê de estarmos ali, naquela condição, naquela relação com o outro, fazendo as escolhas ou concessões que fazemos, direciona nosso viver consciente.

Seja no acampamento, na estrada, em casa ou dentro de nós mesmos, o que nos mantém unidos ao momento, ao outro, a cada dia e a cada instante, é sempre nossa escolha. Podemos decidir por nós, sabendo o que estamos dispostos a dar e expressando o que efetivamente queremos receber. Exigir demais, exigir de menos? O diálogo, o autoconhecimento e nossos sonhos podem nos ajudar a equilibrar essa balança. Assim, não exigimos o que o outro não pode dar e não nos forçamos a dar aquilo que não podemos.

Então, aqui vai uma sugestão: aproveite para deixar sua carranca de lado e procure descobrir o que o mantém unido.

A quem você agradece?

Nesse domingo, dia cinco de abril, minha querida Avó faria 89 anos. Foi um dia saudoso e sentimental.

Lembro como se fosse agora, a Vó a espiar minha conversa no terraço pelas frestas da veneziana da sala, tentando a muito custo escutar meus possíveis segredos. Era um movimento conhecido, esperado e ao mesmo tempo carinhoso. Eu dizia “Vó pára com isso! Deixa de espiar!” Na frente dos mais chegados, eu gritava de longe e ríamos juntos. Se primeiros freqüentadores, eu pedia licença e cuidadosamente cochichava no ouvido dela, conduzindo-a pela mão novamente para dentro do quarto. Ela replicava “minha filha isso não é direito!”

Que saudade da minha querida! É certo que a doença, Alzheimer e outros males, há muito que a levava de mim. Mas olhar para ela, no fundo me trazia calma e segurança. Uma certeza de que tudo sempre daria certo e que estávamos juntas a nos proteger.

Minha querida Vó acabou sendo a Vó de muitos. Quem a conheceu, de certo que se lembra de alguns causos. Como não conseguia memorizar nomes com facilidade (hoje acho que já era manifestação do Alzheimer), deu aos meus amigos vários apelidos. Para mim, até mais complicados do que seus próprios nomes, para ela uma maneira de guardar o jeitinho de cada um consigo e se manter atual. Então, criou “a perna grossa”, “a doida”, “o mimoso”, “o menino tão bonzinho”, “a menina que não come carne”. E por aí seguia com sua criatividade. Às vezes, passava o dia inteiro tentando recordar o nome daquela cantora. “Aquela antiga, do cabelo grande encaracolado, da voz bonita, que apareceu no Faustão. Como é meu Deus?” – perguntava-se. “Elba Ramalho Vó!!” – eu respondia para tirá-la daquela ansiedade obcecada. “Graças a Deus!” – suspirava aliviada.

E quando guardava objetos e não sabia mais onde encontrá-los?! O bom era quando dizia que eu tinha pego e sumido com a coisa em questão. Eu dizia “Vó, não precisa esconder, que aí nem a senhora acha mais!” – “Minha filha, tem muita gente nessa casa. Você mesma devia guardar melhor suas coisas.” – respondia me aconselhando. Daí, passou ela mesma a trancar meu guarda-roupa e a sumir com minha chave. Era um Deus nos acuda para encontrar.

De humor oscilante, alguns dias acordava com a cara fechada. Reclamava que o filho a pedia “Mamãe, dê um sorriso” – repetia com voz irônica. Em resposta ensaiava um sorriso amarelo com misto de indignação e raiva. Eu ria, mas me perguntava o que ela já não tinha passado por esta vida que a fazia tão objetiva e incrédula. Depois que ela se foi, acabei concluindo que mesmo com todo amor, não conheci a vida de minha Vó. Talvez o pouco que me contava, trazia a ela nostalgia, tristeza e alívio pelo tempo já passado. Talvez por isso, ou mesmo desinteresse de adolescente, não tenha avançado muito nessa pesquisa.

Hoje refletindo, vejo que a sinceridade era sua grande marca. Tranquilamente soltava pérolas como “só estou a tua cara não tremer” – quando não acreditava em alguma desculpa. Ou então, “mas você é cara lisa!” – jogava com a sabedoria de quem já viu muito, quase tudo, e por isso desenvolveu o ceticismo como sistema de sobrevivência.

Lembro muito dela comendo banana e doce de mamão, suas iguarias preferidas, dizendo “ô beleza!”. Ela adorava banana assada com açúcar e canela. De um modo geral, adorava banana, seja na comida, após o almoço ou mesmo o doce. Costume que guardo comigo até hoje.

“Fioquinha”, como carinhosa e unicamente me chamava, era a expressão máxima da ternura de uma mulher que não recebeu muitas demonstrações de amor ao longo da vida. Orgulho-me de ter ensinado minha Vó a abraçar. Mesmo dizendo “sai, sai, sai” ela se permitia, somente comigo, aquela rápida e tão simbólica troca de afeto.

Com minha Vó, aprendi a ter medo de trovão, a fazer pudim, a dormir na rede, a estudar, a gostar de plantas e de verde, a respeitar e amar os mais velhos, a valorizar o apoio que recebemos e saber retribuir, a me preocupar com as pessoas, a ter dedicação, a ser honesta, a ter gratidão e a dizer EU TE AMO.

Nos últimos anos, minha vozinha começou a pintar as unhas de vermelho. Certamente uma travessura na sua idade. Cortar o cabelo, pintar as unhas, fazer as sobrancelhas e uma pequena estética fácil, eram luxos que se dava e me permitia praticar com uma certa regularidade.

Se hoje aqui estivesse, faria seu aniversário como tradicionalmente o fiz nos últimos cinco anos. Teria bolo com velinhas, família, almoço, sobremesa, fotos, discurso. Ela me olharia desconcertada e diria “ah cretina!”. Cantaríamos parabéns e eu diria que a amava demais, algo que passei a fazer todos os dias, quando já não sabia mais por quanto tempo ainda a teria perto de mim.

No final de sua vida, aprendi bastante principalmente a expressar meu amor por ela a cada momento, a cada instante. Não me cansei de repetir, o quanto me sentia grata por tudo que vivemos, por tudo que recebi. Palavras de perdão, gratidão e amor formaram meu discurso final e sei que ela entendeu.

Mesmo estando longe, presto então minha homenagem a minha amada Avó. EU TE AMO VÓ! E nesse domingo, pintei minhas unhas de vermelho pelo seu aniversário.

A que você veio?

Essa semana dois fatos merecem destaque no semanário. Primeiro, conheci uma pessoa muito gente boa e segundo, iniciei uma disciplina muito interessante no curso.

A pessoa que conheci foi uma indicação do marido de uma colega de trabalho em Fortaleza. Desde o primeiro contato, essa pessoa demonstrou ser atenciosa, solícita e verdadeiramente interessada em me ajudar. Ouvi frases do tipo “quero ser o seu apoio aqui em Minas”, “o que você precisar e estiver ao meu alcance pode me procurar”, “pode contar com a estrutura do meu escritório para qualquer necessidade”. Ouvir isso de um “desconhecido” e sem interesse adicional é de espantar.

Se até então não tivesse tido a sensação de ser bem-acolhida, então aquele sujeito foi o representante legal de Minas, nomeado por mim. Fico pensando no diferencial que essa pessoa tem, no magnetismo e bem-estar que gera nos outros. Disse a ele que foi um prazer conhecê-lo como pessoa. Pela sinceridade, receptividade e atenção, aqui deixo meu destaque da semana.

A segunda menção vai para a disciplina do meu curso de especialização chamada Plano de Desenvolvimento Individual (PDI). Entre as propostas dessa disciplina estão ampliar o nosso processo de autoconhecimento, conhecer o significado e tendências das relações de trabalho e carreira, bem como nos ajudar a elaborar um plano de ação para desenvolvimento individual.

Uau! Lindo demais esses objetivos. Na prática estão chacoalhando minha cabeça. Eu, que já era tão existencial, tendo que pensar em missão de vida, valores pessoais, visão, o que me torna única nesse mundo.

Esses questionamentos sempre me afligiram e nunca tive resposta suficiente para calar a dúvida. Até que resolvi esquecer de pensar sobre a que vim ao mundo e focar mais na objetividade, na coisa real aqui e agora. Para minha surpresa, o curso vem trazer isso à tona novamente.

Então, estou aqui a remexer os neurônios. Embora a resposta passe pelo coração, antes de se formular em definitivo acaba pegando um atalho pela censura ou o bom senso (segundo alguns) do cérebro. Você, por exemplo, já parou para pensar qual é sua missão de vida?! Caso não, vamos fazer alguns exercícios para caminharmos juntos nessa busca.

Imaginem um padre ou afim, qual a possível missão dele? Alguns diriam, facilitar o caminho espiritual das pessoas. Um professor? Formar e desenvolver pessoas. Um técnico poderia ser desenvolver talentos. Uma prostituta? Dar prazer às pessoas, apesar da divergência de opiniões em essência ela pode ser isso sim. Um comediante? Levar humor ao mundo ou alegrar a vida das pessoas. Um médico, salvar vidas. Um cozinheiro, encantar pelo sabor. Um vendedor, promover a satisfação das pessoas através de produtos e serviços.

Analisando brevemente as possíveis respostas, podemos concluir que elas têm em comum o fato de passarem pelo indivíduo e ao mesmo tempo gerarem algum benefício para o outro. Benefício este que ao se realizar, também traz satisfação e felicidade para si, pois a missão pode até ter seus percalços, mas não precisa ser algo sacrificante.

Em resumo, é como se nossa missão estivesse necessariamente ligada ao outro, porque eu posso dizer simplesmente que vim para ser feliz ou viver experiências, só que esses objetivos sempre terão a participação de outra pessoa. Exceto se você viver numa ilha sozinho, viver é algo coletivo e sua missão acaba assumindo essa característica.

Imagino o sujeito que conheci nessa semana, qual será a missão dele, alguém arrisca? Dentre algumas possibilidades penso que uma poderia ser a de ser deixar as pessoas melhores do que a encontrou, seja numa palavra, numa ação, numa escuta.

É isso amigos. Deixo aqui algumas reflexões, porque ainda não elaborei totalmente as minhas. Espero que nós, dentro de nossas missões, visão e valores, tornemos o mundo melhor do que o encontramos a cada dia. Desejo ainda que usemos aquilo que nos torna único, nossa palavra amiga, nosso sorriso caloroso, nossa escuta ativa, que usemos isso com amor e sabedoria. Yes!

Eu digo sim para a vida

Em homenagem a uma grande amigae já pedindo licença a ela, começo meu semanário com esse fantástico alinhamento produzido no meio de uma catarse, no meio daquelas conversas íntimas típicas de grandes amigos. Eu digo sim para o amor, eu digo sim para a vida.

Em relação às notícias, dois fatos “marcaram” essa semana: a ineficiência da OI e o cano furado do banheiro. Eventos esses que de uma forma interessante estão intimamente relacionados.

Com a vinda para Minas, cancelei meu plano de telefonia de Fortaleza e tentei fazer outro aqui. Disse bem, tentei. Há três semanas venho tentando cancelar meu Oi Conta Total e fazer um novo plano aqui, mas parece impossível. Estou fazendo uma coleção de protocolos, nomes de atendentes e nada.
Comecei segunda com essa “fácil” missão de cancelar o velho e criar um novo. Imaginem que fiz 15 ligações para a OI e não resolvi o meu problema. Falei com um sem número de pessoas, fui transferida uma porção de vezes, a ligação caiu outras tantas e eu tendo que repetir todos os dados para aquela voz chata e metálica do atendimento eletrônico. Eu perguntava impaciente “o que você pode fazer para resolver o meu problema?” e a criatura respondia “Lamento senhora, mas nada.” De fato é como dizem nas caricaturas, do outro lado parece que não tem gente e sim uma máquina com no máximo três falas programadas.

Eu comunicava então que ia cancelar minha linha fixa e a pessoa do outro lado começava a me oferecer inúmeras promoções. Imagine a incoerência. Uma pessoa altamente insatisfeita a ouvir ofertas que não resolviam nada. Era cômico até. Típico de comédia da vida privada.

A sensação era de que tudo estava emperrando. Até a ligação para a ANATEL não completava. Parecia que eu estava enlouquecendo. Era como se não conseguisse me livrar do velho e implantar o novo. Eu me sentia enrolada. Sabe esses rolos chiclete que não se consegue dar um fim?! Era o cara dizendo “minha filha, não te quero mais” ou a mulher “cara desculpe, mas não rola” e a outra pessoa sem aceitar o fim e a fazer novas promessas.
Ao final da manhã estava exausta, com aquela sensação terrível de impotência, misturada com frustração, vontade de explodir e ao mesmo tempo incredulidade. Riso pálido e choro se confundiam.

Fui almoçar ao calor do sol rachando para ver se espairecia. Sim, amigos, aqui faz sol e é pior que em Fortaleza. Aliás, trouxe o sol daí, desculpem. Na volta do almoço devia vir alguma solução. – apostava.

Voltando para ao apartamento, o namorado do nada se dirigiu ao banheiro e num movimento frenético começou a furar a parede para pregar uma ducha que teimava em não fixar. Eu ouvia a furadeira e perguntava “Tá furando o quê?”, mas nada de resposta. Embora não me desse atenção, o instinto dele o avisava desde o início que essa era uma operação arriscada. E não deu outra. Em pouco tempo escuto da sala um grito seguido de palavrões. Por fim o desabafo – “eu sabia!!”

Putz! A água saiu pelo cano. Cano furado. Ainda mais essa. Problema com a OI, agora problema com o cano. E a água jorrando. Ia ensopar tudo, prejudicar pintura, podia vazar para o vizinho de baixo... Ahhhh! Parecia pesadelo e brincadeira!

No início deu um pouco de raiva, impaciência, mas evoluí queridos, evoluí. Veio muito rápida a lembrança de um comentário de um grande amigo – “Quando ocorre algum vazamento numa casa, alguma questão com água, é porque a energia ali estava presa e precisava fluir.”

Essa idéia me acalmou e se em outros tempos ficaria extremamente brava, naquele momento acolhi o aprendizado e tranqüilizei o namorado que no fundo só queria ajudar e dar o seu melhor.

Com esse pensamento conseguimos resolver tudo no dia seguinte. E não é que aquele meu amigo tinha razão! Assim como a água, o resto da semana começou a fluir. O namorado recebeu a ligação do trabalho que tanto esperava, eu mesma recebi algumas propostas de trabalho, consegui o acesso tão necessário a internet e finalmente comprei meus eletros (geladeira, microondas, sanduicheira).

Para comemorar, no domingo comprei tulipas e begônias na feira e enchi meu apartamento de flores. Afinal, é com flores que recebemos pessoas queridas. E uma especial bateu em minha porta essa semana: A VIDA.

YES! EU DIGO SIM PARA A VIDA!

Semanário BH

"...sou do luxo da aldeia eu sou do Ceará!" e vim para Minas para dar um up na vida.
Para manter, então, os laços aquecidos e a mente ativa, toda semana envio notícias aos meus amigos através de textos reflexivos sobre o que vivi nesta terrinha de uais. Esse é o projeto "Semanário BH". Não confundam com "seminário" meus caros... rsrsr

Confira a cada semana as histórias e boa leitura.