segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fazendo as Pazes

A semana que passou foi de muita introspecção. Para ajudar, acabei lendo dois livros e vendo dois filmes que, coincidentemente, seguiram o mesmo foco: o passado.
Os livros foram “Vencendo o Passado” de Zíbia Gaspareto e “Uma Vida Inventada” de Maitê Proença. Os filmes, “Divã” de José Alvarenga Jr., inspirado no livro de Martha Medeiros e “O Passado” de Hector Babenco.
O que tudo isso tem em comum? A lida com o nosso conteúdo passado.

Muitas vezes nos encontramos presos ao passado, em geral sem o saber, por não processarmos determinados acontecimentos, ou mesmo porque passamos por cima de uma situação com a velocidade inapropriada, não destinando a ela uma atenção um pouco mais demorada para aquilo que precisava de apreciação. E assim, acaba que incorremos de formas diferentes em mesmas histórias.

Eu que busco me olhar do avesso há um certo tempo, vejo que somos um poço sem fundo de auto-descobertas. O que parecia óbvio para nossos amigos confidentes, para todos aqueles que nos conhecem para além do palco, quando nos cai o véu surge aquela conhecida sensação de bobo. Uma doce ingenuidade, junto com um sentimento de perdão permitido aos que andavam em círculos.

Ao fim da semana cheguei a conclusão que precisava fazer as pazes comigo mesma. E eu que nem sabia que havia brigado. Pois bem, estava eu diante da coordenadora do meu curso de pós-graduação, conversando sobre o meu perfil relacionado a escolhas de trabalho que fiz ao longo da vida. Agendei um horário com ela para analisarmos minhas reflexões, próprias do momento que vivo. A coordenadora me questiona: “Como você está fazendo para lidar com essa forte convicção que em alguns casos tende ao autoritarismo? Isso está muito presente no seu perfil.” Eu respondi sem jeito: “Ora professora, eu respiro, fiz análise, converso, peço desculpas. Já melhorei bastante sabe, quando é mais forte eu sufoco, escondo, me critico....” E lá se ia eu caindo na real que meu autoritarismo estava dentro de mim desde sempre.

Contextualizando, a convicção é a disposição que empregamos para seguir nossas próprias idéias. Juntamente com a independência e o confronto, esses três elementos compõem uma parte da personalidade chamada de determinação. Uma pessoa determinada de forma equilibrada é comprometida, motivadora. Quando em doses excessivas pode tender ao autoritarismo, ou seja, imposição. Ocorre que na vida real, a determinação tem uma relação bem estreita entre a assertividade e o autoritarismo.

Esmiuçando mais a conversa com a coordenadora, perguntei de que forma esse aspecto B da personalidade pode ter alguma utilidade em vida, como pode alguém utilizar uma coisa tão ruim para o bem. Ela então me esclarece que o autoritarismo tem sua serventia sim, sendo necessário em situações de emergência, importante para alguém tomar a frente das soluções, bem como tem o perfil das causas sociais, nas pessoas ou instituições que lutam por seus valores, como é o caso do Greenpeace.

Então, me senti assim bestinha. “Ah tá. Então a senhora está me dizendo que posso redirecionar essa energia para algo que seja mais apropriado ao invés de negá-la dentro de mim? – comentei me refazendo” Eu pensei cá comigo: “Oh meu Deus, mais isso é lógico! Que coisa, esse autoritarismo que não me deixa!” Coisas de minha mãe e meu avô... E agora, minhas também.

Compreendi então que há tempos venho lutando com meu perfil, escolhendo caminhos que não condizem comigo, numa busca louca de acertar, de ser alguém melhor. Só que não dá para ser outra pessoa toda a vida. Alguma hora a parede vai rachar. Nesse momento, encontro-me olho a olho com o passado. Acertando as contas e me encarando para me assumir.

Percebo que há algo dentro de mim querendo ruir, sair. Já não dá mais para ser como antes. Não adianta tentar me perder em mim, pois acabo me achando. Um dia isso sempre acontece e desculpas já não cabem.

Assim amigos, descobri uma porção de coisas das quais não gosto e se possível não quero mais fazer. Eu não gosto de trabalhar com atividades externas (visitas, prospectar vender), não me apetece ter que lidar com uma grande quantidade de pessoas diariamente, não produzo bem ao trabalhar com muita subordinação, não me agrada falar em público (eu lido e processo minha idéias melhor quando as escrevo), entre outras coisitas. Ao assumir tudo isso, sinto que tiro um peso que não precisava carregar todos esses anos e não sei o porquê essas pedras foram parar no meu bolso.

Sabe quando a gente olha pra trás e se pergunta “por que eu aceitei aquela proposta?”, “por que eu fui por aquele caminho e não pelo outro?”, “por que não insisti um pouco mais no que tanto queria”, “por quê?” Mil porquês sobram no pensamento. O fato é que entendi que, no meu caso, eu escolhi tentar ser melhor naquilo que não era o meu talento. Quem me disse isso? Uma pessoa famosa, Peter Drucker. Já ouviu falar nele? O “pai do management” em seu livro “Desafios Gerenciais para o Século XXI” me ensinou que “a maioria das pessoas concentra-se em melhorar nas áreas em que tem baixa competência, o que é um grande equívoco...A concentração deve ser nas áreas de alta competência e aptidão. Pois é preciso mais energia e muito mais trabalho para passar da incompetência para a mediocridade do que para melhorar o desempenho de primeira classe para a excelência.”

Como disse a coordenadora, minha urgência em escolher talvez tenha sido pela minha essência pragmática. Na vida, eu preciso entender o porquê das coisas e qual as utilidades, para assim me inserir no contexto. Atualmente estou sem respostas, apenas um punhado de perguntas. O que precisamos ainda resgatar do nosso passado? O que mais não aceitamos em nossa personalidade? Em que temos empregado o tempo desnecessariamente?

Indo adiante, reconheço aqui meu autoritarismo, acolho essa minha face B, pois assim como em quase tudo, há um lado bom nessa característica. Hoje, mais do que ontem, aceito-me como sou e busco um caminho que tenha mais a ver comigo. Meu olho, prometo, há de brilhar.

7 comentários:

  1. Ô Cris,
    este texto tem tudinho a ver com o que conversamos ontem no msn - ô conversa boa...
    Uma bola pesadinha tentou remexer no meu peito porque me vi nesse seu avesso. Sempre busquei me superar no que eu mais temia e não gostava, mostrando mais para os outros do que para mim, do que eu era capaz. E me vi infeliz, deixando para trás todos os meus sonhos para viver o dos outros. Altruísmo é bom, mas na medida certa que não deixa fugir da rota. Uma coisa é certa, aquela música do Belchior – Como nossos pais - retrata do jeitinho como acabamos por agir, por mais que fujamos. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Daí renascer sempre para desatar esses nós que nos prende ao passado e viver o nosso agora. Fazer o workshop foi vivenciar muita coisa que já estava renascendo em mim. A suposição precisava da assinatura da certeza para virar realidade. E nada melhor do que vivenciar certas surpresas da respiração... Antes eu era como o Renato Russo: ... não sei o que quero só sei do que não gosto. Belchior agora me chama atenção para fazer uma história diferente. E AGORA, eu sigo meus passos, sabendo o que quero, o que não quero, o que gosto e o que não gosto. A palavras dos sábios me servem como alerta e lembrança, e não mais como um guia.
    P. S. Esse seu perfil é igualzinho a de uma escritora e você nunca teve tanto tempo livre (ócio criativo) para escrever... Vamos escrever um livro?
    Bjs de quem de ama e que decidiu sair do círculo para escalar montanhas e saltar de pára-quedas.

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  2. Amiga,
    que felicidade conhecer o seu blog!
    Estou um tanto ausente da net,tenho aproveitado ao máximo a minha pequena e nos intervalos são tantas coisinhas pra fazer que a net acaba ficando no final da lista.
    Gostei muito de suas reflexões,me ajudaram a fazer algumas.Torço por sua felicidade.
    Milhões de beijosssssss
    Alé

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  3. Oi Cris e amigos da Cris,

    Eu ia responder só para você mas achei que seus outros amigos talvez também devesse opinar...

    Não vejo autoritarismo em você e saiba que não falo para agradar pois quem trabalhava no clube de renascimento como você sabe que bajulação não te faria bém.

    Vejo em você Generosidade, Alta Energia, Encanto, Organização, Competência, Presença, Amizade, Amor e Muito, mas Muito Mais!!!

    Você faz falta aqui em Fortaleza e fez muita falta no Workshop da Ramyata que tivemos 18 pagantes de novo! Lembramos de você a todo instante. Nós te amamos!

    É lógico que essa auto-investigação é boa e você sabe como fazer...

    Continue e peça ao Espírito que te guie para achar um emprego com estas características que te Nutrem e te realizam... Eu acredito em você!

    Quero te visitar um dia, conhecer seus amigos novos de BH...

    Com amor e luz... e muitas saudades...

    Gustavo.

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  4. Sempre gostoso saber de você!!
    Gosto do jeito que escreve...

    beijocas e saudades
    Dhyan

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkk

    Inda bem que tu reconhece que é mandona!!!!

    òoi!

    Beijos e Saudades!!!

    Beto

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  6. Cris,
    Será essa a crise dos 30?!Rsrsrs
    Estou nesse processo. Na minha análise tinha até me apelidado de Mariana (só pra esclarecer:a moça da propaganda do TSE que andava em círculos)!!!
    O melhor caminho que achei foi justamente o de me aceitar e entender os meus nós.

    O lado B nunca é tão legal quanto o lado A.Mas,existem muitas surpresas legais e uns acordes que até podem virar música de sucesso!
    Ótima semana pra tu!!!

    Bjinhos!!!
    Hania

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  7. Graças a Deus tenho a internet a meu favor, tem rolado trabalhos e estou conseguindo me manter com tranquilidade.

    Apesar da instabilidade, isso me traz autonomia, mobilidade, independência e livre escolha. É como você cita no seu ultimo semanário: estou tentando ser o melhor naquilo que é meu talento. Me dou bem não tento chefe, não tendo hora pra trabalhar, não tendo até mesmo lugar para morar...rs.

    Um beijo grande!

    Bruno

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