segunda-feira, 27 de junho de 2016

Aquele abraço


Dia desses fui surpreendida com uma cena extremamente inocente. O abraço espontâneo de uma criança para outra. Quem recebeu o abraço, um menino lá pelos seus sete anos, também foi pego de surpresa por aqueles bracinhos finos de um garotinho de três. O menino não sabia o que fazer diante daquele afago do pequeno cavaleiro. Ficou ali estático, desajeitado. Um minúsculo silêncio soprou entre nós. Sem graça, o rapazinho logo tratou de correr para o meio da rua em brincadeiras menos infantis - atirar pequenos frutos em outro amigo.

Aquele gesto desprogramado me lembrou que abraços são assim, atos impulsivos, corajosos, que conectam nossa graça com a energia do outro. Abraços são coisas que fazemos quando as palavras não são suficientemente calorosas para expressar nossa intenção. São gestos impensados que às vezes nos pregam peças. Você pode subestimar um abraço acolhedor de urso, ou aquele quentinho de uma estrutura esquelética. E os que encaixam, embriagam a alma.

Mas existem os abraços disfarçados de originais, uma espécie de “falso-positivo”. Aqueles que por educação e fazer social dispensamos a estranhos e a pouco conhecidos. É como aquele beijo perdido no ar que as socialites trocam nas casas de chá. Não se conectam.

Há momentos, porém, em que os abraços são a única expressão possível entre dois seres. Seja por amor ou por sofrimento, o encostar de corpos diz uma infinidade de sentimentos mudos. Algo como - eu estou aqui pra você; pode contar comigo; parabéns você merece e eu reconheço seu esforço; sinto muito meu amigo; imagino o que você está passando.

Relembrando a cena dos meninos, eu me pergunto por que aquele pequeno ser de sete anos se viu tão desconfortável diante do gesto do garotinho de três. Será que a mecânica da vida nos faz desaprender a abraçar? Existe isso?! Ou abraçar é tão instintivo quanto um apertar de mãos?


Creio que carecemos de intimidade e coragem para deixar o outro ouvir nosso coração. E se ele perceber que dentro do peito algo bate acelerado? E se alguém nos descobrir? Poderá ser um risco. Este é o desafio. Podem descobrir que estamos vivos!

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