Ela não me conhecia, eu não a conheci. Ficamos assim, sem
nos conhecer. Que bom!
Eram cinco horas da tarde de uma quarta-feira, quando a
destemida cruzou os dois lados da avenida em uma moto azul. Atravessou sem
capacete, em velocidade reta, com a confiança de um cego. Cego para as leis de
trânsito e para a prudência.
Freei em cima da condutora e não tive nem reação de buzinar.
Senti meu coração parar um instante e voltar segundos depois pulsando na minha
mão. A falta da buzina talvez tenha salvado nós duas. Vai que no susto do
momento ela parasse, ou caísse e a gente acabasse se conhecendo.
Sabe aquelas situações que não há tempo de praguejar, nem
reagir? As pessoas e os outros veículos ficaram em câmera lenta e eu só pude
agradecer. Agradecer por não conhecê-la, por não descer do carro, por não
apertar sua mão e lamentar o encontro.
Ficamos assim, a cinco centímetros de saber nossos nomes. Então,
siga reto minha senhora. Vá no rumo que for, porque nesse dia não soube sua
graça, mas a minha foi Livramento.
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