quinta-feira, 30 de junho de 2016

A Desconhecida


Ela não me conhecia, eu não a conheci. Ficamos assim, sem nos conhecer. Que bom!

Eram cinco horas da tarde de uma quarta-feira, quando a destemida cruzou os dois lados da avenida em uma moto azul. Atravessou sem capacete, em velocidade reta, com a confiança de um cego. Cego para as leis de trânsito e para a prudência.

Freei em cima da condutora e não tive nem reação de buzinar. Senti meu coração parar um instante e voltar segundos depois pulsando na minha mão. A falta da buzina talvez tenha salvado nós duas. Vai que no susto do momento ela parasse, ou caísse e a gente acabasse se conhecendo.

Sabe aquelas situações que não há tempo de praguejar, nem reagir? As pessoas e os outros veículos ficaram em câmera lenta e eu só pude agradecer. Agradecer por não conhecê-la, por não descer do carro, por não apertar sua mão e lamentar o encontro.

Ficamos assim, a cinco centímetros de saber nossos nomes. Então, siga reto minha senhora. Vá no rumo que for, porque nesse dia não soube sua graça, mas a minha foi Livramento.

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