segunda-feira, 4 de julho de 2016

Ela me bagunça



"Chega uma hora em que a única opção possível é viver", diz minha amiga com sua sabedoria peculiar em recentes devaneios. Ela é dessas que vêm e bagunça meu mundo, com suas frases de efeito. Sabe aquelas pessoas que mudam nossa perspectiva com uma boa conversa?! Assim é essa criatura, que mexe na minha vida mostrando que o impossível é apenas um ponto de vista.

"Parece que você esta flertando com a morte!", solta ela em diálogos simples enquanto caminhamos. Eu brinco que ela tem voz de comando sobre mim. E assim já me trouxe de volta quando eu queria fugir e fazer a vida no Norte do país, após uma dolorosa separação. "Sua vida é aqui! Você precisa voltar!", ordenava com a preocupação própria dos que amam e se importam. Em um dos últimos episódios, me chutou para o gol como aquele último empurrão antes de um abismo, em que a pessoa pula para salvar a pele.  "A bolsa ou a vida?!", me questionou incisiva. E foi com essa mãozinha que resolvi ir para outro estado me operar da cabeça.

Projetando sobre como seria se eu tivesse tomado outra decisão, agora eu poderia estar sem falar, sem comer, sem andar ou até não estar mais por aqui ouvindo as palavras de revestrés dessa minha irmã. Nas nossas prosas, costumamos refletir sobre como o indivíduo toma um rumo totalmente diferente com apenas uma decisão. "À esquerda ou à direita?", perguntamos a nós mesmos diante de impasses. E lá se vai o destino seguindo por um fluxo radicalmente diverso, porque o indivíduo tomou como curso à esquerda.

Quem subverte assim a lógica dos fatos como essa camarada, só pode ser muito inteligente! Quando todos estão indo numa direção, vem a amiga-Nemo e mostra aquele pontinho piscando que ninguém tinha notado, mas que faz uma grande diferença. A questão toda é que ela consegue resgatar o que está no meu íntimo. Aí quando joga as impressões no vento, vem aquela nítida sensação de que o outro caminho (agora o escolhido) é o que faz totalmente sentido. Então, com a confiança no fluxo (e na amiga), eu vou e mudo a opção.


Alguns a chamam de doida, esse era inclusive o apelido carinhoso dado por minha amada Vó para este ser particular. "Cadê a doida, minha filha?", lembrava a Vó quando queria um pouco mais de risos na própria vida. E nessa loucura, com a intensidade e a coragem somente dos imortais, ela diz que quer morrer com o caixão cheio de dívidas penduradas. "Afinal, são só papéis, enquanto a vida" - define ela - "essa passa rápido demais".

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