"Chega uma hora em que a
única opção possível é viver", diz minha amiga com sua sabedoria peculiar
em recentes devaneios. Ela é dessas que vêm e bagunça meu mundo, com suas
frases de efeito. Sabe aquelas pessoas que mudam nossa perspectiva com uma boa
conversa?! Assim é essa criatura, que mexe na minha vida mostrando que o
impossível é apenas um ponto de vista.
"Parece que você esta
flertando com a morte!", solta ela em diálogos simples enquanto
caminhamos. Eu brinco que ela tem voz de comando sobre mim. E assim já me
trouxe de volta quando eu queria fugir e fazer a vida no Norte do país, após
uma dolorosa separação. "Sua vida é aqui! Você precisa voltar!",
ordenava com a preocupação própria dos que amam e se importam. Em um dos
últimos episódios, me chutou para o gol como aquele último empurrão antes de um
abismo, em que a pessoa pula para salvar a pele. "A bolsa ou a vida?!", me
questionou incisiva. E foi com essa mãozinha que resolvi ir para outro estado
me operar da cabeça.
Projetando sobre como seria se eu
tivesse tomado outra decisão, agora eu poderia estar sem falar, sem comer, sem
andar ou até não estar mais por aqui ouvindo as palavras de revestrés dessa
minha irmã. Nas nossas prosas, costumamos refletir sobre como o indivíduo toma
um rumo totalmente diferente com apenas uma decisão. "À esquerda ou à
direita?", perguntamos a nós mesmos diante de impasses. E lá se vai o
destino seguindo por um fluxo radicalmente diverso, porque o indivíduo tomou
como curso à esquerda.
Quem subverte assim a lógica dos
fatos como essa camarada, só pode ser muito inteligente! Quando todos estão
indo numa direção, vem a amiga-Nemo e mostra aquele pontinho piscando que
ninguém tinha notado, mas que faz uma grande diferença. A questão toda é que
ela consegue resgatar o que está no meu íntimo. Aí quando joga as impressões no
vento, vem aquela nítida sensação de que o outro caminho (agora o escolhido) é
o que faz totalmente sentido. Então, com a confiança no fluxo (e na amiga), eu
vou e mudo a opção.
Alguns a chamam de doida, esse
era inclusive o apelido carinhoso dado por minha amada Vó para este ser
particular. "Cadê a doida, minha filha?", lembrava a Vó quando queria
um pouco mais de risos na própria vida. E nessa loucura, com a intensidade e a
coragem somente dos imortais, ela diz que quer morrer com o caixão cheio de
dívidas penduradas. "Afinal, são só papéis, enquanto a vida" - define
ela - "essa passa rápido demais".
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