quinta-feira, 28 de julho de 2016

What?


Nesse tempo de discussões virtuais, achismos e agressões, fui mordida pelos enfrentamentos dos grupos de WhatsApp. Não escapei à regra.

Um amigo posta foto no grupo ao lado de Biel, e lá se vai eu, que tanto fujo das brigas de palavras, alertar meu amigo (que petulância a minha!) sobre a polêmica envolvendo o MC e uma jornalista do portal IG. "Olhe suas companhias", solto em tom de repreensão.

A resposta não poderia ser diferente, veio afiada: "Aquilo é uma vagabunda... Foi até demitida, outra repórter que será testemunha disse que ela se ofereceu para ele.".

Aqueles comentários começaram a martelar na minha cabeça. Pronto, acabou meu sossego e postura zen. Me senti mal com a palavra "vagabunda", com o fato de ser mulher, com o contexto de assédio e com a questão, claro, da envolvida ser jornalista (minha profissão). Acusei então esse amigo de manter a retórica, no quesito mulher, na era do patriarcado.

Para quem não acompanhou o caso, no dia 3 de maio deste ano, uma jornalista de 21 anos do portal IG foi entrevistar o tal MC sobre o lançamento do novo CD. Em contrapartida, segundo áudios e boletim de ocorrência divulgados pela rede, a jovem ouviu sentenças do tipo “se te pego, te quebro no meio”, “cuzona”, “Sim, você quer que eu te dê um (selinho)?”, "gostosinha", “Queria que sua entrevista fosse a última do dia, te levaria para um hotel e te estupraria rapidinho”. Abalada, a repórter tirou alguns dias para se recuperar, mas quando retornou ao trabalho foi demitida.

Reponsabilidades à parte (MC, jornalista, IG, testemunhas, “cultura” do estupro...), questionei meu amigo principalmente sobre o emprego do "adjetivo" vagabunda, e acabei sendo indagada sobre minha honestidade. Por que eu não fiquei calada?! Se tem uma coisa que mexe com minhas vísceras é a tal desonestidade. A palavra mágica que vira aquela chave interna escondida em todos nós, o botão vermelho que me coloca no modo "olho arregalado". Para outros pode ser a senha “fraco”, “irresponsável”, “mentiroso”, para mim é “desonestidade”.

Novamente, dentro de mim algo ecoava, fiquei introspectiva. Comecei a refletir sobre o que há de desonesto em mim, sobre o quanto negocio com minha consciência alguns favores.

Não sou modelo, e creio que ninguém é, embora eu tenha como referência um outro amigo. Não o tomo pela perfeição, mas pela firmeza de caráter e bom coração, sempre, até mesmo quando ele é ácido nos comentários. Acredito na integridade dele e na justiça que lança sobre as situações. Só por isso já me sinto mais esperançosa nos dilemas diários e na vida. É como se dissesse a mim mesma, há alguém honesto e justo no mundo. Não é que eu seja pessimista (não sou), é que ter esse “porto-seguro” aquieta a alma.

O quanto de desonesto há em mim? E a pergunta tilintou um dia inteiro, dois, três. Até agora.

Esse amigo do WhatsApp indagou se avanço sinal vermelho. Sim, avanço, principalmente para não ser assaltada à noite, diria eu. Às vezes até me intitulo "a rainha do fotossensor", numa brincadeira que não é de graça e coça no bolso. Assumo: ir devagar não é meu forte.  Nem com a dor, nem com o amor. Mas afinal, devo levar tudo a ferro e fogo?! A ética, porém, não aceita desculpas.

Sim, reconheço que guardo lugar na fila para uma amiga, omito alguns comentários desagradáveis de uns para outros, e minto para mim quando digo que posso comprar só mais aquele sapato. "E essa blusa? Cabe na parcela do cartão." Engano a mim mesma me passando de tranquila, quando sou uma criatura altamente impaciente. Entre tantas outras pequenas e grandes (algumas admito inconfessáveis) trapaças, concordo com meu amigo: "E existem pessoas bem melhores do que eu e do que você na política." Mais um ponto que é fato, existem seres melhores do que eu. Ah, esqueci de dizer, o fulano é político, o qual sempre defendi para todos por ser meu amigo de infância. Um a zero para ele.

E na continuidade das trocas de farpas, o amigo destaca, "Quando você fala do meio que vivo, fala de mim." É justo, ele tem razão novamente, mais um ponto no placar do meu desarrazoamento. E quem hoje não desacredita na idoneidade dessa classe?! – Pensei convicta. É, mas a parte não é todo.

"No mesmo meio demagógico da nossa classe média que sempre vivemos", complementa meu amigo com aquele ás de ouro da canastra real, que vem selar a partida, há muito perdida por mim.

O que sobrou? O grupo continua, obviamente, só que fiquei com o nó no peito e foi como se algo quebrasse dentro de mim. "Dramática!", classificaria esse amigo. Também é verdade. Com sentimentos tento ponderar, mas quando sinto, sinto.


Com o placar de quatro a zero, só cabe recolher minha desonestidade e imperfeição, as minhas tentativas de tentar fazer as coisas de maneira correta, quando estou a anos luz da justeza. Até que eu vire o placar, vou evitar confusão.

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