Quinze minutos salvaram a vida do
piloto de avião Leonardo, que naquela noite de terça-feira chegou atrasado ao
trabalho na Turquia. O voo do brasileiro deveria decolar às 0h05 e segundo o protocolo da
companhia, o piloto deveria estar presente no aeroporto duas horas antes da
partida. Em Istambul, o terminal do aeroporto Ataturk foi alvo de atentado
terrorista, às 22h de 28 de junho de 2016. Mais de 40 pessoas morreram e foram
mais de 230 feridos. Para Leonardo foi por um quase.
Dedos de prosa a mais com um
amigo ao telefone garantiram a integridade do brasileiro, que hoje deve conceder o
título de anjo da guarda ao amigo. Passados o susto e o pesar, imagino se Leonardo
viu a vida passar em flashback, se
pensou em como o mundo e sua família ficariam sem ele. Se projetou quem
encontraria “do outro lado”, e se revisou todas essas coisas que dizem que a
gente faz quando a vida está escorrendo por um final, por um quase. "Ah,
eu quase morri!". "Eu quase cheguei na hora!". "Eu quase
disse que a amava tanto...". “Eu quase peguei aquele caminho...”, poderia
divagar o piloto.
Às vezes, quando saio de casa, ou
pelo menos tento e volto inúmeras vezes por ter esquecido algo, lembro de Paulo
Coelho e conto até dez. Imagino os possíveis livramentos que posso ter recebido
no dia pelo celular que deixei em cima da cama, pelo carregador que ficou
plugado na tomada, pelo pente que não voltei para por o cabelo molhado em
ordem.
Naquela terça-feira comum, o
piloto brasileiro flertou a morte de perto. Será que Leonardo irá dizer mais eu
te amos? Será que vai rir mais de si mesmo? Será que irá listar as quinze
coisas que gostaria de realizar antes de morrer?
Inspirada no caso do piloto,
comecei a fazer minha lista de desejos também. Sim, por um quase eu também poderia
não estar mais aqui. Por um quase, eu poderia ter morrido há uns meses, quando entrei
na cirurgia para retirada de um tumor cerebral.
Percebo que os itens da wish list não surgiram tão facilmente, como
eu supunha. Fiquei um final de semana a refletir, a desejar, como aquele sonho
que quase vamos esquecendo, aquela atitude mais arriscada que quase tomamos,
mas pelo medo da censura, principalmente a nossa própria, deixamos para um dia,
um depois.
Após uns sorrisos internos, fiquei
que nem criança trazendo o impossível para junto de mim. Listei meus top 15,
com a inocência dos que alcançam o céu com três pulos. É como se o mundo parasse
para eu subir e me desse o carimbo do “você pode”, “você merece”, “você realiza”.
Vamos lá:
- Ter um filho... estou em negociação há alguns anos com a endometriose.
- Ser uma escritora publicada e lida... sinto borboletas no estômago.
- Plantar uma árvore... não, brincadeirinha, quero mesmo é fazer o caminho de Santiago de Compostela.
- Conhecer a Índia... minha alma viaja para lá toda semana.
- Conhecer o Peru e visitar Machu Pichu... Tenho certeza que meus ancestrais estiveram lá!
- Ver um campo de tulipas na Holanda... Ahh imagino a textura, as cores e o cheiro!
- Realizar uma exposição de fotos minhas... Sebastião Salgado é minha inspiração, consegue olhar a alma humana e as paisagens com uma sensibilidade incrível.
- Conhecer vários países da Europa numa viagem incrível e descolada... imagino uma aventura a dois, mochilas nas costas e a coragem no bolso.
- Percorrer o litoral brasileiro de carro... uma barraca e colchonetes no porta-malas. Risos, música e...
- Ver um show ao vivo do Tony Mouzayek, meu cantor de música árabe que amo! Os derbakes já fazem meu coração saltar! Ouço os gritinhos e sou capturada pela dança do ventre!
- Conhecer Fernando de Noronha... vou encher o peito com aquela beleza.
- Aprender dança de salão e tango... quem sabe participo até de uma competição amadora. A dança traz a alma para o presente e leva o coração para outros tempos.
- Concluir a formação em Jornalismo... Tá chegando, sonho de criança, vou segurar aquele canudo como a Scarlett O’Hara em “E o Vento Levou”.
Me dou conta
que ainda tem espaço para 2 desejos. Que maravilha! Posso pedir mais! É como
diz minha sábia amiga, "o melhor investimento que podemos fazer neste
momento é em nós mesmos".
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