Sexta-feira à noite. Correria no
trânsito para alcançar a sessão noturna de "Procurando Dory". Fui
assistir com amigos e suas crianças, que agitadas aguardavam ansiosas a
programação há muito prometida. Depois iríamos comer pizza, enquanto a dupla infantil
brincaria no parquinho, naquela saída típica de casais com filhos e amigos que
acompanham esses casais.
A sessão mal começou e os irmãos
de sete e quatro anos comentavam o filme enérgicos. Com o tom mais alto que a
dublagem e a espontaneidade própria da infância, aos pais só restava
"shiii", "fale baixo", "você não está em casa", e
outros apelos de discrição, mas impossível quando se tem crias. Exclamações,
perguntas, risadas, sustos e os pimpolhos ficavam na torcida de que a pequena
Dory, peixinha com perda de memória recente, desse certo nas suas aventuras e
na vida. A cada expressão deles, eu sorria por dentro e por fora. Faz tempo que
não ia a filme com crianças. É surpreendente ver aqueles olhinhos manifestando
a sinceridade curiosa dos que sempre esperam o melhor da ficção e da realidade.
E eis que na metade da exibição,
o mais novo suspira - "Esse filme é triste papai. Não quero mais
ver.", enquanto se refugiava na segurança paterna. Fiquei emocionada com
aquela sensibilidade que torce por finais felizes, por reencontros, por uma
vida com a simplicidade e com a alegria de criança. E nisso, acabo recordando
de cenas opostas, de pessoas que repetem corajosas em alto som - "Eu
sempre espero pelo pior, porque se vier já estou preparada.". Ou mesmo de
quem, precavido, enfatiza - "Odeio surpresas.". Talvez as
experiências traumáticas tenham convertido tais criaturas em céticas, cautelosas,
nas que esperam pouco da vida, e torcem que pelo menos se nada der errado isso
já será o bastante.
Confesso que em alguns trechos
também achei a história do filme um pouco exaustiva, como se Dory não fosse ter
êxito. Isso me desgastou, assim quanto ao rapazinho espectador. Algo semelhante
ao que ocorre na vida, quando estamos no círculo vicioso conhecido como
"dar murro em ponta de faca", quando parece que estamos longe de
acertar. Porém, diante daquela muralha de incertezas, das situações
consideradas "sem saída", os Nemos questionavam intrigados - "O
que a Dory faria neste caso?!".
Estar preso em constante esforço,
em repetidas ações frustradas, pode nos levar a crer que não há um final feliz
esperando por nós, ou que não exista um caminho alternativo para o sucesso.
Nessas horas, nossa energia pode ir minando, ao passo que também vai
enfraquecendo a fé em nós mesmos. E é justamente quando cabe a reflexão dos
Nemos - "O que a Dory faria neste caso?!".
Que atitudes inesperadas eu poderia
tomar, mesmo quando todos, principalmente eu, acham tal escolha um absurdo?! Qual
saída não seria esperada para o contexto? O que seria louco, até mesmo para meus
padrões, fazer? O que eu não estou vendo aqui? Dessas inversões de lógica e de
pensamento, muitas vezes, damos chance ao cubo de revelar uma nova perspectiva,
uma outra janela para nossos lamentos tão batidos.
Dory, com o que sabia fazer de melhor
- esquecer - deu chance à vida de mostrar que os caminhos seguem no fluxo do
aprendizado. Mesmo esquecendo nossas habilidades, nossa confiança interior,
algo genuíno brota dentro de nós quando agimos com a despretensão e a confiança
da peixinha. E os resultados podem ser surpreendentes.
Para mim, foi uma lembrança de
que todos somos aptos a encontrar nosso próprio destino, mesmo esquecendo
nossos recursos, mesmo nos perdendo de vez em quando no meio da estrada. “Continue
a nadar, continue a nadar!”, repetia Dory, confirmando que a vida pode trazer
surpresas maravilhosas, em geral de onde menos esperamos.
Quanto ao filho dos meus amigos, viu
o filme até o fim e ficou feliz por Dory, que encontrou o caminho de volta.
Então, depois foi comer pastel e brincar com a irmã.
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