Costumo dizer que o melhor cheiro
do mundo é o do café no momento da feitura. É o néctar dos deuses, sem tirar
nem por. Nessa hora, me vejo como um pequeno elemental seguindo a fumaça, uma
longa e tortuosa linha sedutora, que leva direto à xícara ou ao copo de vidro
de botequim.
Nada mais trivial, simples e
sempre inédito do que um café com pão. A combinação que traz à tona o
essencial, o bate papo desinteressado, a conversa importante jogada fora, ou mesmo
aquela horinha das fofocas construtivas. Um aroma que é o aconchego da alma,
aquele tapinha nas costas que diz - "vai dar tudo certo". O perfume
que lembra a paradinha no meio da tarde, da estrada, da preocupação, dos afazeres,
dos familiares.
Ah, "café com pão bolacha
não!", diz a brincadeira popular. A bebida que une e torna aquele grupo tão único, pelo menos durante
os dez goles com direito a ovo, queijo e manteiga. Faz o povo ser o que é, uma
animação ensurdecedora, uma bagunça misturada de gritos, piadas e risos, onde
ninguém se ouve e todos se entendem.
À mesa, pães rodeados de gente, a
família se debruça sobre as velhas e novas histórias. Falam mal, falam bem,
falam dos que já foram, dos que não vieram e se divertem com os presentes. Uns até
brincam, “Rapaz, ainda bem que vim para me defender.”. Ao lado do cafezinho, os
ânimos se apoiam e todo mundo fica inteligente. Aparecem os causos que cada um sabe contar tão bem. Tem até aquele tio que sempre derruba a bandeja de
alumínio no chão, e quando a gente menos espera toma o maior susto.
Não tem frase mais carismática do
que aquela – “Tô passando aí pra tomar um café!”. Seja na casa da tia para
fazer o social (uma desculpa para comer o queijo da fazenda), seja com o irmão
(para pedir um conselho), seja com aquele amigo querido (que a gente adora
encontrar), não precisa de justificativa para um bom gole de café.
E não se engane! Você pode beber
leite, tomar Coca-Cola, preferir suco, por gosto ou mesmo pra evitar uma gastrite,
tal a minha que costuma se fazer presente após longos períodos de cafeína, mas
ainda assim você estará incluído na roda do café. O círculo democrático, que
sempre cabe mais um, e que tem o jeito simples de dizer “estamos reunidos para
o que fazemos de melhor, prosear”.
Há quem diga que café é bobagem.
Penso eu, um sacrilégio! O café encurta as distâncias nas longas viagens,
aquece os diálogos importantes e outros nem tanto, além de ser aquele momento
simpático que nos torna mais gente, mais humano. Os estudiosos declaram, “faz
mal”, depois revisam, “faz bem”. Certo mesmo é que um bom café - coado,
expresso, forte, chafé - faz muito bem para o coração.
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