Fui procurar umas fotos da
infância para homenagem ao Dia das Mães e encontro várias fases da vida
estampada em cor. Percebo que só tenho um álbum de criança com uma fotinha do
batizado com meus avós, três de um aniversário no qual adorava a mesa decorada
com guloseimas e duas de meus pais juntos me segurando no colo (raridade para
se guardar no cofre). Mais umas quatro de quando bebê, as quais estranhamente parecem
não ser eu.
Fotografias são as memórias do
peito guardadas no papel. Quando a gente se vê refletido é um disparate. Voltam
no tempo os sentimentos da época, nosso modelito desatualizado, o corte de
cabelo rebelde, os programas com amigos, algumas dores e amores. Volta a fita dos
problemas tão grandes vividos ali (com a nossa dimensão juvenil) e as inúmeras preocupações
de uma vida adolescente.
Fico curiosa para saber quais os
pensamentos naquele exato momento da foto. O que sentiam todos os registrados,
o que tentavam conquistar e o que esperavam da vida. Como um corte no tempo, a
gente vira mosca e relembra as cenas, imagina os porquês e se perde em
devaneios.
Além da nostalgia das fotos
antigas, em geral se tem a ideia de que estamos melhores, mais maduros, mais
bonitos, mais vividos. Dá certo conforto sentir que a vida anda para frente,
mesmo nos momentos em que teimamos usar a marcha a ré. Evoluímos todos, somente
a estátua é que se deteriora. E não
temos essa vocação, porque nascemos do movimento e seguimos assim, embora os
ponteiros às vezes pareçam enferrujar.
As fotos de antigamente trazem o
ineditismo, outros ângulos, espontaneidade e sorriso mais livre de quando só
tínhamos direito a algumas poses. Registravam as emoções, mais do que pessoas
olhando para a câmera. Não era preciso perfeição nem o melhor perfil. O
sentimento estava nos dois lados.
Eram momentos genuínos da festa
de criança, com lembrancinhas nos copos plásticos que viravam coelhos, cestinhas
e o que mais a habilidade da nossa mãe permitisse. Era uma mão não se sabe de
quem cortando a foto. E seres desconhecidos. “Sabe quem é esse aqui? Não, e
você? Também não. Deve ser fulano. Não, é sicrano. Ah sim, é o filho da comadre
Chica!”
Na foto, aquela mãe também não é
a mesma de hoje. O sorriso e olhar ingênuos completavam a calça boca de sino, os
móveis dos anos 1970 e o calendário na parede. Os sonhos de ontem são tão
diferentes dos de hoje. Assim também a criança de vestidinho bordado, casinha
de abelha, agora em outras vestes.
Do álbum de infância para 2017
correu um rio, vazou um mar. Hoje são outros doces, novas alegrias e mais
desafios. A mãe foi, a Vó também. A mãe voltou, como nos laços de presentes que
refazemos par ficar mais enfeitado. Essa história de olhar álbuns dá nisso, a
gente se revisita e se reinventa.
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