Dizem que o combinado não sai
caro, mas há dias em que tudo foge ao nosso controle, a esse pré-combinado que
garante a organização da rotina. São aquelas horas nos lembrando que não temos
o domínio que achamos ter sobre os acontecimentos e sobre as pessoas. É quando tudo
parece desencontrado e irritante. Soa familiar para você?
Nessas ocasiões, é comum procurarmos
aquele bendito ser em quem por a culpa. Às vezes, nós mesmos estamos na mira. De
tudo um pouco, todos e ninguém somos responsáveis pelo desenrolar dos fatos.
Foi como tinha que ser, a nossa revelia. Assim é a vida, selvagem.
Digo isso porque é habitual que
os desencontros nos gerem pensamentos do tipo "O que deu errado?",
"Em que parte eu tive culpa?", “O que poderia ter sido feito
diferente?". Já passou pela sua cabeça algo assim?
Afora as melhorias que podemos
tirar de cada conto, o que incomoda nesses casos são as réstias de culpa que
nos atazanam o juízo. Ficam lá, martelando, depondo contra nossa competência e
maturidade em lidar com as situações. Mas a questão a entender, e
principalmente a aceitar, é que não damos conta de tudo, apesar da nossa sensação
de onipresença. Não. Não podemos consertar o mundo, as pessoas, o passado, nem
colocar um laço e ajeitar os "erros" na mesma hora.
E como lidar com aquele mal estar
interno quando algo não vai como o nosso planejado? Podemos nos perguntar:
"Fizemos o nosso melhor?", "Realizamos tudo que estava ao nosso
alcance?". Só que isso não ajuda muito quando a sensação de erro segue no encalço.
Em geral, essa perseguição culposa
pode nos remeter à velha e repetida crença de que "não somos bons o
suficiente". E já se avista no horizonte a conhecida senhora chamada
autoestima. Muitos percalços esbarram nela, mesmo quando a ligação parece
improvável, ou muito ou pouco, retornam ao dilema do sou ou não sou.
Fico invejosa de quem liga o
cobiçado botão do “deixa para lá" (para não dizer o “foda-se") e
segue sua rotina leve, dorme bem e acorda no dia seguinte com a pele de
pêssego. Sábios ou antiempáticos, essas criaturas vivem mais. Não guardam
remorsos, criam rugas de idade e não de preocupação, e bebem café sem culpa.
Ah culpa! Ideia bobinha e
persistente que inferniza nossos dias desencontrados e nos faz acreditar que
nascemos com defeito de fábrica.
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