terça-feira, 9 de agosto de 2016

Cercados pelo que nos faz feliz


O famoso livro de Marie Kondo - “A Mágica da arrumação – A arte japonesa de colocar ordem na sua casa e na sua vida.” - já vendeu mais de dois milhões de exemplares no mundo. Um best seller com muito a nos ensinar sobre os objetos e as pessoas. Para a autora japonesa, quando se põe ordem na casa organizam-se também nossas questões e nosso passado. Entre as consequências positivas desta arrumação estão o aumento da capacidade de distinguir o que é essencial do que é inútil, além de trazer mais simplicidade e alegria para a vida. Afinal, Marie sugere que, antes de descartar ou guardar um objeto, nos perguntemos se isto nos traz alegria. A ideia proposta é a de que estejamos cercados apenas pelo que nos faz feliz.

Sou aficionada por organização, acredito que cada coisa tem o seu lugar. Assim como creio que uma casa limpa atrai a prosperidade, as surpresas maravilhosas que a vida traz para cada um de nós, se soubermos esperar e nos preparar para receber. Algumas vezes, é claro, minha mania de organização extrapola a depender do meu (mau) humor. Quanto mais preocupada, mais cri cri fico com a bagunça. Por que no fundo não dou conta de ver no exterior um reflexo da minha confusão de miolos.

Cresci com minha Vó acumulando caixas e mais caixas de presentes, latinhas lindas de biscoito (uma graça!), sacolas plásticas coloridas, potes de margarina. Com o tempo me surpreendi ao ver este traço não somente nas senhorinhas, mas aquilo na época já me dava arrepios e eu tentava contemporizar meu tique com o fato de eu não ser a dona da casa. Ao ler Marie Kondo me identifiquei muito com o convite à simplicidade. “Por que temos mais do que precisamos?”, questiona ela explicando que a origem da bagunça é o excesso.

Marie nos confronta quando diz que temos mais livros não lidos do que antes (e esses são bem mais difíceis de descartar do que os que já lemos), moedinhas espalhadas por toda parte, botões descasados (por via das dúvidas, se um cair), amuletos quebrados (a viagem foi tão inesquecível!), peças e cabos eletrônicos sem utilidade e caixas de fotos e cartinhas de ex (que ninguém descubra!). Segundo a japonesa, a relação que temos com os pertences se enquadra em três categorias: apego ao passado, desejo de estabilidade no futuro ou uma combinação de ambos. Trata-se, portanto, de passado e de futuro, nunca do presente, do aqui e agora. Quem nunca ouviu a clássica frase “Um dia posso precisar.”. Balela, isso também é desculpa. Somos nós mirando o futuro sem perceber o presente de cada dia.

Outro exercício que a autora nos propõe, além da arte do desapego, é expressar gratidão e respeito pelos objetos. “Agradeço por ter me aquecido o dia inteiro.”, podemos dizer às roupas de trabalho. “Agradeço por ter me embelezado.”, quando nos dirigimos aos acessórios. Concordo que gratidão gera uma onda energética positiva, e por que não sermos gratos também aos nossos objetos pelo papel que desempenham em nossa rotina? Não custa tentar! Agradeço então ao computador por levar minha de sopa de palavras pela rede.

A obra nos leva a refletir sobre simplicidade, gratidão, desapego e principalmente sobre o que faz sentido e nos dá alegria neste momento em nossas vidas. Neste processo, acabo por estender a ponderação também às pessoas. Se pararmos para avaliar nosso precioso espaço interno, podemos nos perguntar de que adianta o desgaste com tantos mal entendidos e aporrinhações envolvendo determinadas criaturas. “Por que mantemos esta relação até aqui?!”, “Por que temos passado por essa ou aquela situação, para guardar o que?!”. A resposta é rápida: “Ah, em nome dos velhos tempos.”, “Ah, porque sim!”. Mas o “por que sim”, já diriam até as crianças, não é resposta que convença.

Percebo que estarmos rodeados do que nos traz alegria vai mais além e inclui também estar em um ambiente de belas parcerias, de leveza, de prazer, de boas trocas. E se estivermos gastando nossa energia com as pessoas erradas? Já pensou o desperdício?! Pode ser extremamente difícil (ou libertador) quando cair a ficha de que o que “sempre foi” tornou-se “não é mais”. É, a Existência prega essas peças.

Segundo Marie, a vida começa de verdade depois que se põe a casa em ordem. Pode ser então que esta “casa” esteja ainda uma bagunça, mesmo com todos os objetos no seu devido lugar.

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