Confesso, tenho um certo nervoso
por pessoas que se balançam. Você pode estar no consultório médico, ou numa
fila de padaria, não há lugar definido. As pernas (na maioria dos casos), ou os
braços do fulano teimam em se agitar num movimento frenético e ininterrupto. A
criatura vai engolindo tudo ao redor como uma pororoca. E é batata! Sobe uma
falta de ar, falta de espaço, falta de calma. Começo a pensar o que ocorreria
se a pessoa simplesmente parasse com aquele pingue-pongue de membros. Será que
entraria em curto-circuito? Ou são as ideias escorrendo pelas pernas porque não
cabem no cérebro? Juro, não sei o que se passa com esse frenesi, mas o gasto
calórico deve ser grande.
Da mesma série, me intrigam as pessoas
barulhentas. Seja pela altura da voz (talvez achem que são as únicas no espaço),
ou pelo modo descompromissado com que jogam as coisas por aí - chaves, pratos,
panelas, amigos. O som ecoa cômodos adentro, tilinta por horas nos nervos. A
pessoa não se importa se aquilo te dá um susto, se pode dar medo (vai que é uma
prévia de um ataque). Não interessa! Você e sua santa concentração que vão para
o beleléu!
Outra noite estava eu na pizzaria
sem conseguir formular o pedido, até que percebi o porquê. A cinco mesas dali estava
um palestrante a dar aulas sobre administração básica. “O papel do
administrador é organizar as tarefas...”, discursava em alto nível. Às
companhias restava ouvir o monólogo mexendo no celular. A voz podia pelo menos
dar uma colher de chá, criar pausas, momentos de diálogo. Mas não! Esse povo
não sabe o que é flexão de tom, muito menos de grau. E naquele plural só cabia
a palavra de um.
Existe ainda outra categoria: as
pessoas avoadas. Uma graça! São relapsas, mas divertidas ao levar a vida como
merece, na leveza e na confiança. Tenho uma tia e uma irmã assim. Duas mulheres
que sabem tirar sarro das situações, rir das graças alheias e das próprias.
Essas caem no gosto popular. Com o espírito bon
vivant, já protagonizaram vários episódios de comédia da vida privada. E
seguem assim, indomáveis e eternamente jovens.
O que dizer das pessoas que se
estralam (será que você é dessas?). São mestres em chacoalhar seguidas vezes os
pobres dedos, juntas, pescoço, que algum dia devem implorar por sossego e
folga. “Treck.” É como se o corpo todo fosse feito de molas necessitando minuto
a minuto de checagens. “Só mais uma conferida, treck, treck, treeeeeck”. Quase
a tal música de uma certa metralhadora. “Tráaaaaa”. Eu me pergunto como esses
entroncamentos sobrevivem. “Tráaaaaa”.
Poderíamos elencar aqui inúmeros tipos,
os seres que fungam e espirram sob o humor dos ventos (sabe aquele barulho que
se faz coçando a garganta e o ouvido?), os que vivem quebrando e derrubando os
objetos (os eletrodomésticos são fãs). Têm os resolutos que acodem a família,
amigos e saem tornando o mundo mais fácil. Com essa tribo não tem tempo ruim. Faço
menção honrosa aos seres verborrágicos, que num só fôlego disparam três
parágrafos, enquanto você ainda nem deglutiu o primeiro. No descompasso, cito os
que não conseguem desencadear um raciocínio lógico. Passa uma formiga, cai uma
folha, ih! Já se perderam entre os bugalhos, clamando por sensatez.
E as pessoas que analisam? Devo
ser dessas! Podem ser consideradas até ranzinzas, as chatinhas que sempre arranjam
lógica para tudo. Mas vou logo avisando, transitar por aqui não é nada fácil. A
objetividade perturba o juízo e cobra uma dívida alta em justificar os acontecimentos,
mesmo quando o especial da vida ocorre sem explicação. Em paralelo vivem as metódicas,
aquelas fanáticas por organização. Conheço uma garota acolá que só usa cosméticos,
roupas e adereços conforme o dia da semana. “Qual perfume hoje? O da
quinta-feira, por favor.” Nem pensar em fugir do roteiro! De incontrolável já
basta a vida.
Pessoas são mesmo fascinantes. Existem
outros tantos tipos a perder de vista, e duvido que nos enquadremos em apenas
uma dessas categorias. Somos múltiplos em nossas loucuras diárias, aonde a
gente vai se encaixando nas brechas, para fazer dar certo esse dia a dia cheio
de pessoas e manias.
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