Sábado à noite, voltando da casa
de uma amiga, avistei a moça na esquina. Na rua estreita, os carros voavam
parando apenas no semáforo mais à frente. Não sei se era cis ou trans. Reparei
apenas que vestia short jeans bem
curto, mais nada. Eram 18 horas, hora do Angelus.
A moça estava ali, de peito à
mostra, escancarada, esperando a carona da vida. Foi um susto e logo depois
aquele corpo já se perdia na paisagem urbana, entre faróis, buzinas e
paralelepípedos. Registrei, mas não vi, como tantas outras situações que correm
pelas nossas janelas.
Lembrei de “Corra Lola, Corra”,
filme alemão de 1998 no qual a protagonista corria contra o tempo para
solucionar um problema do namorado. Na película, diferentes escolhas levavam a distintos
desfechos. No real, várias narrativas cabiam ali, na esquina com a moça. Mas o
desfecho, não vou saber. O trânsito seguiu, as horas também.
Será que a moça veio vestida (de
onde quer que tenha vindo), tirou a blusa no ponto e recolocaria quando alguém
a chamasse para uma volta? Ou já veio seminua, bem ao estilo “hoje vou assim!”?
Estaria sempre naquela parada e no dado momento resolveu inovar? Corta.
No meio do caminho a veste rasgou, então seguiu de alma presa com o busto livre. Ou quem sabe, esperando na esquina, concluiu que as horas passavam e nada acontecia, tirou a roupa como quem arregaça as mangas para a labuta. “Faço o que for preciso!”. Algumas possibilidades latentes. Corre Lola, corre.
No meio do caminho a veste rasgou, então seguiu de alma presa com o busto livre. Ou quem sabe, esperando na esquina, concluiu que as horas passavam e nada acontecia, tirou a roupa como quem arregaça as mangas para a labuta. “Faço o que for preciso!”. Algumas possibilidades latentes. Corre Lola, corre.
Os braços estendidos na lateral,
bem rente ao corpo, demonstravam uma inércia corajosa, uma certa rendição de
espírito, um desalento. Uma alma que teimava em se esconder, apesar da nudez
imposta. Qual corpo cabia ali? O que se mostrava não era o que eu via, embora
exposto era uma recusa. Pensei sobre a decisão de retirada da vestimenta e o
motivo que a levaria a colocar a blusa de volta.
A cena foi ficando para trás,
junto com o corpo das 18h de um sábado de agosto. O estranhamento não. Era
noitinha e os faróis cortavam os caminhos nervosos buscando algum lugar,
enquanto a vida da moça seguia rumos (des)conhecidos.
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