quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O desconhecido que nos toca

Uma situação inusitada ocorreu semana passada. Eu a conversar com uma colega na faculdade quando alguém me toca nas costas, desliza pelo meu braço e finaliza com um aconchego de mão com mão. Uma desconhecida me sorriu e eu sorri de volta. Foi automático.

Poderia ser mais um daqueles episódios no qual queremos nos lembrar do nome da pessoa (quase na ponta da língua) e fingimos conhecimento, evitando o nome do fulano para não passar vergonha. "Cara, você tá ótimo!", "Rapaz, há quanto tempo?!", "Menina, por onde você anda?". Vocativos em boa hora.

Esse não era o caso. De costas eu poderia parecer com alguém do convívio dela. É, as costas enganam.  A pessoa era uma ilustre desconhecida da minha rede de não conhecidos. Mas não houve falta de graça, apenas olhar com olhar e naturalidade. Leveza de quem aceita o improvável da vida, que vem com ônus e bônus. Às vezes mais bônus que ônus, quando simplesmente nos deixamos levar.

A mão da desconhecida me afagou com espírito brincalhão, simples, de quem não sente vergonha de se expor, de errar, de procurar um contato. Lembro dos casos em que alguém conhecido cruza nossa rotina e preferimos não dizer olá. Dá trabalho, pode nos atrapalhar, temos preguiça. Ela não. Passou, sorriu e foi, assim como passamos, sorrimos e nos (des)encontramos diariamente.

Um cumprimento nada custoso, mostrando que podemos estar abertos ao desconhecido, sem temer o ridículo, sem sermos tão escravos da lógica. E se todos os dias falássemos com algum "estranho"? Um bom dia solto no trânsito, um olá passando pela rua, um bem vindo ao imprevisível do dia.

O desconhecido nos sorri diariamente. Sintonizemos. Há mais espaço para esta poesia da vida, que ocorre quando damos chance ao acaso. Não aquele acaso que mexe com nossa segurança (desatenção em lugares perigosos). Aquele outro, o estado de alma sem pretensão, que admira o simples e ainda se surpreende com a delicadeza.

Era véspera do meu aniversário e o desconhecido veio a mim. Me presenteou com o calor humano, tão necessário e às vezes tão raro. Por um momento, saí do automático.

Um comentário:

  1. Afinal, quem era ela? Estou louquinha pra saber... Ela sabe que tu não sabia quem era ela?

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