Uma situação inusitada ocorreu
semana passada. Eu a conversar com uma colega na faculdade quando alguém me
toca nas costas, desliza pelo meu braço e finaliza com um aconchego de mão com
mão. Uma desconhecida me sorriu e eu sorri de volta. Foi automático.
Poderia ser mais um daqueles
episódios no qual queremos nos lembrar do nome da pessoa (quase na ponta da
língua) e fingimos conhecimento, evitando o nome do fulano para não passar
vergonha. "Cara, você tá ótimo!", "Rapaz, há quanto
tempo?!", "Menina, por onde você anda?". Vocativos em boa hora.
Esse não era o caso. De costas eu
poderia parecer com alguém do convívio dela. É, as costas enganam. A pessoa era uma ilustre desconhecida da minha
rede de não conhecidos. Mas não houve falta de graça, apenas olhar com olhar e
naturalidade. Leveza de quem aceita o improvável da vida, que vem com ônus e
bônus. Às vezes mais bônus que ônus, quando simplesmente nos deixamos levar.
A mão da desconhecida me afagou
com espírito brincalhão, simples, de quem não sente vergonha de se expor, de
errar, de procurar um contato. Lembro dos casos em que alguém conhecido cruza
nossa rotina e preferimos não dizer olá. Dá trabalho, pode nos atrapalhar,
temos preguiça. Ela não. Passou, sorriu e foi, assim como passamos, sorrimos e
nos (des)encontramos diariamente.
Um cumprimento nada custoso,
mostrando que podemos estar abertos ao desconhecido, sem temer o ridículo, sem
sermos tão escravos da lógica. E se todos os dias falássemos com algum
"estranho"? Um bom dia solto no trânsito, um olá passando pela rua,
um bem vindo ao imprevisível do dia.
O desconhecido nos sorri
diariamente. Sintonizemos. Há mais espaço para esta poesia da vida, que ocorre
quando damos chance ao acaso. Não aquele acaso que mexe com nossa segurança
(desatenção em lugares perigosos). Aquele outro, o estado de alma sem
pretensão, que admira o simples e ainda se surpreende com a delicadeza.
Era véspera do meu aniversário e
o desconhecido veio a mim. Me presenteou com o calor humano, tão necessário e às
vezes tão raro. Por um momento, saí do automático.
Afinal, quem era ela? Estou louquinha pra saber... Ela sabe que tu não sabia quem era ela?
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