Saber ensinar é para poucos e
aprender apenas olhando, somente para alguns. A maioria de nós assimila com a
mão na massa, na madeira, no cimento, na labuta, ou seja, na prática. Além da
teoria, que é parte do processo, vamos errando e aprimorando enquanto o labor
acontece. Hoje podemos nos ver melhores profissionais do que passos atrás. É o
normal, é o que se espera. Mas para o marceneiro lá de casa não.
"Uma coisa que não aceito é
burrice!", solta a pérola se referindo ao ajudante, que também retruca:
"Ele só faz me chamar de burro, mas não me ensina como fazer!". O
marceneiro repreende impiedoso: "Ensinar?! Ninguém nunca me ensinou nada,
aprendi olhando. Não aprendi a errar. Se eu erro é porque alguém me atrapalhou
com certeza!". Ouvi o diálogo do quarto ao lado, enquanto trabalhava. “Não
é possível!”, pensei, “Tenho que escrever sobre isso, porque além de pitoresco
é no mínimo surreal.”.
As frases categóricas vieram do
senhor que não cumpriu nenhum dos prazos ensaiados, adiou a entrega diversas
vezes, prometeu vir, mas na realidade não deu o ar da graça alguns dias, e
quando eu liguei para receber satisfações, disse na cara de carvalho que estava
doente. No fundo, considero que deve ter pego outro serviço e resolveu fazer
tudo ao mesmo tempo e agora. Nada com perfeição, é claro. Ao modelo de
profissional não interessou se eu me programei para esperá-lo, se adiei
compromissos, se eu contava almoçar na mesa nova há meses, se eu queria
organizar as roupas espalhadas pela casa no novo guarda-roupa. De fato, ele não
aprendeu a errar, então eu cliente devo tê-lo atrapalhado.
"Pior coisa do mundo é lidar
com gente! Não tenho paciência!", confessa o senhor que precisa de
ajudantes para completar seu trabalho. Fala para mim com a expressão de peroba,
sem empatia alguma com os pobres mortais que trabalham para que ele, o patrão,
entregue os móveis em algum ponto do tempo e do espaço. Eu, sem jeito, olhei
incrédula imaginando que aquele homem adoraria ser uma ilha, ou se ache uma Cariniana Ianeirensis, da família das Lecythidaceae. Ou seja, um jequitibá,
árvore típica da Mata Atlântica, com risco de extinção. Não, pensando bem talvez
se considere um Pilocarpus Trachylophus,
isto é um jaborandi-do-Ceará, árvore do cerrado ameaçada de desaparecer.
Para mim, ele está mais para uma Cyperus Rotundus, mais conhecida como
tiririca, espécie de planta que aparece em solos muito ácidos e prejudica o
desenvolvimento de outra vegetação. Fiquei imaginando o que esse marceneiro passou
para construir tais tipos de pensamentos. Será que teve pais ausentes? Começou
a trabalhar ainda criança? Apanhou até aprender e hoje diz que ninguém lhe
ensinou nada? Como se tornou essa “erva daninha”? Divaguei nas possibilidades,
mas não ousei investigar.
"Hoje não tem mais mão de
obra! O povo que tá aí só quer saber de celular.", argumentou quando eu
disse que ele fez jus à regra de nenhum marceneiro entregar o serviço no prazo.
"Ninguém!", defendeu-se, "Ninguém que trabalha com serviço desse
tipo entrega no prazo. Tudo atrasa.", concluiu enfático.
Mal a criatura saiu e já soltou
uma peça da porta do guarda-roupa. Pelo visto, além de pontualidade, certamente
excelência não é o seu forte. Também rebocou algumas lascas nas portas com
corretivo (confiram uma outra utilidade para o produto), na tentativa de
maquiar as imperfeições do transporte e lançar uma técnica moderna.
A reforma dos móveis até ficou boa,
deu outro astral ao quarto do casal, é verdade. Respiramos diferente, como quem
acabou de mudar para a casa nova. Custoso foi o processo, a expectativa e o
trato com o tal marceneiro, que acredita que ensinar é para os fracos.
Acho que ele quis dizer que aprender com alguém é que é para os fracos, que quem é bom não precisa ser ensinado. Sobre prazos...Pior que o que ele falou é verdade... não tem marceneiro que entregue no prazo. Até hoje não vi um. E sempre sai um trabalho em que a gente não sai satisfeito com alguma coisa.
ResponderExcluirTalvez a única coisa que o ser humano aprenda sozinho seja a forma de lidar com as imperfeições dos outros.
Acho que ele quis dizer que aprender com alguém é que é para os fracos, que quem é bom não precisa ser ensinado. Sobre prazos...Pior que o que ele falou é verdade... não tem marceneiro que entregue no prazo. Até hoje não vi um. E sempre sai um trabalho em que a gente não sai satisfeito com alguma coisa.
ResponderExcluirTalvez a única coisa que o ser humano aprenda sozinho seja a forma de lidar com as imperfeições dos outros.